sexta-feira, 14 de setembro de 2012
Nyl Blorong aka Snake Queen - 1982
Pois é, caro amigo, nesse momento depois de ter viajado a tantos lugares desse mundo que não para de rodar e nos deixa zonzos , giros e crazies, eis que estou na Indonésia. Sempre quis dar um pulinho aqui, andar pelas ruas iluminadas de Jacarta , visitar as mesquitas inumeráveis, infinitas, depois me quedar sossegado em um restaurante e provar os fantásticos acepipes da culinária local. Caminhar pelas ruas reserva outros prazeres: lindas mulheres que não cessam de dar uma espiada na aparência gringa do caminhante solitário. Na beira do rio paro e contemplo longamente os barcos de vários modelos e tamanhos. Sonho com as histórias de Terry e os Piratas, os filmes com Fred Mc Murray, Maria Montez, imagino que verei um espião se esgueirando nas sombras, piratas saindo com seus barcos para realizarem mais um ato selvagem e depois buscarem refúgio em uma ilha infestada de tigres e serpentes. A imagem de um oriente mágico, cinematográfico persiste em minha mente. Sonho em comprar um pequeno barco e me perder nas incontáveis ilhas que compõem este país singular exótico. Meu atento amigo, mas você sabe que aprecio o cinema, e quanto mais bizarro e louco melhor. E na falta de tempo de entrar em uma das salas de cinema da cidade - nenhum filme tinha legendas- comprei um DVD pirata de um filme nas mãos de um vendedor de rua. Ele me garantiu,num inglês mais atroz ainda que o meu, que o filme que eu comprei era incrível, extraordinário e tinha a vantagem de ser falado em inglês. Voltei para o hotel, cansado já das caminhadas, o suor escorrendo pelo rosto, e mesmo assim coloquei o filme no aparelho de DVD do quarto de hotel. Meu dileto amigo, você vez ou outra gosta de debochar da minha predileção por cinematografias ditas exóticas e já me ironizou nas bebedeiras noturnas nos botecos sobre resenhas que escrevi a respeito de filmes da Islândia, Turquia e outros países. Gosto de imaginar que, para um nativo de um desses países, nosso Brasil seja também exótico. Tudo enfim é questão de perspectiva, ter o olhar aberto para aceitar o que foge do trivial, que vá além dos cadernos de cultura chiques do Globo, Estadão ou Folha de São Paulo. O mundo é grande, disse um poeta. Nem sempre podemos fugir da tirania cinematográfica e cultural vinda do nosso Tio e Pai Sam, mas não custa combatê-lo silenciosamente, como aqui neste quarto de hotel numa rua de Jacarta, diante de uma pequena TV. Combate tolo e inútil, é verdade.
No momento em que começam a surgir no visor as imagens do filme, e percebo que a cópia é, sim, falada em inglês, mas tem subtítulos em grego e a qualidade de imagem é sofrível. Mas imagino que seja a única possível e continuo desperto na longa noite e me embrenho na história da Rainha das serpentes. O astro é Barry Prima que conheço de uma maluquice do mesmo país que assisti há tempos: “The Devil’s Sword”. O único filme que assistira feito no país. A atriz principal que atende pelo singular nome de Suzzanna, foi figura manjada por lá nas telas de cinema. No mesmo dia comprei também outro filme estrelado por ela: “The White Alligador Queen”. Claro que as novas gerações da Indonésia nem sabem quem ela é. Pelo menos para os funcionários do hotel com quem troquei algumas palavras, nenhum recordava quem era ela e esboçaram caretas de incredulidade, decerto pensando que estavam diante de um ocidental maluco e veado, que ao invés de estar ali abraçado com uma das milhares de putas que infestam os becos da cidade, simplesmente carregava alguns DVDs piratas e indagava sobre um velha atriz esquecida. Talvez tivessem razão no quesito loucura.O calor é infernal e o filme dirigido por Sisworo Gautama Putral vai ficando cada vez mais insano e surreal a medida que a trama se desdobra qual uma serpente deslizando na relva: Sexo, exorcismo, bruxaria, lutas, há um pouco de tudo que a máquina de sonhos oriental pode criar. As interpretações absolutamente distantes dos padrões ocidentais naturalistas: exageradas, caricatas e acentuam o grotesco deliberadamente. E o melhor, amigo, é que toda a trama excessiva tem um quê de uma velha lenda narrada ao pé do fogo, um mergulho no folclore do país. E daí o charme inquestionável do filme. E fico pensando, porque lá no nosso Brasil inzoneiro poucos cineastas tiveram a ousadia de se libertarem das amarras naturalistas e não apostam na poesia do insano das entranhas das narrativas ancestrais, como é aqui nesse filme e outros dessa exótica e distante Indonésia. Ai,amigo ,isso é só mais um sonho, entre tantos outros sonhos, cujo maior de todos é este aqui nesse quarto quente de uma Jacarta que só existe na minha imaginação e nas palavras que vou digitando a esmo. Aqui vai ,pois, um legítimo filme indonésio: você terá mais assunto para piadas no próximo encontro em algum boteco dessa cidade de calor digno de um Saara .
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Um comentário:
Esse filme tem no youtube completo.
Exótico, eu diria.
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