sábado, 15 de junho de 2013
Libidine - 1979
A zoofilia é tara velha, e o cinema já explorou aqui e ali. Nosso cinema pornô da Boca foi pródigo na exploração dela. Antes da onda do explicito Jean Garret fez o sensacional “Mulher, Mulher” que tinha a cena de Helena Ramos sendo lambida por um cavalo. Inolvidável. Os italianos fizeram o clássico “Bestialitá” em 1976, onde um cão fazia amor com uma mulher. Confesso que não aprecio muito essa corrente da exploitation, incluindo os filmes da Boca que investiram neste filão. Tem gente que gosta ou tem curiosidade a respeito, não? Mas vamos ao filme, sem dúvida um dos mais insanos e bizarros que explorou a zoofilia. O que temos aqui é um quê de horror, muito erotismo com cenas que beiram o explícito e até toques de giallo. Um cientista maluco faz experiências com serpentes em seu laboratório sonhando em criar um ser meio serpente meio homem, que segundo ele solucionaria o problema da fome no mundo! Imerso nessas preocupações profundas não esquenta a cabeça com a jovem esposa Carla(marina Hedman), uma frenética ninfomaníaca que passa boa parte do filme fazendo sexo com o mordomo ou com a empregada interpretada por Ajita Wilson, figura enigmática do cinema europeu dos anos 70. Homem ou mulher? Ao que tudo indica nasceu homem, fez uma operação para mudança do sexo e foi fazer filmes exploitation na Europa até morrer em um acidente. A dupla garante a voltagem erótica ao filme. A primeira, sueca de origem, teve longa carreira no cinema italiano, atuou em filmes pornográficos, e fez ponta em “Cidade das Mulheres” de Fellini. A impressão que tinha neste instante era mesmo de apenas mais um filme erótico italiano. Mas a filha do cientista retorna para casa depois de uma temporada em um colégio de freiras. OK, ela era virgem, mas às primeiras cenas em que aparece já fica nua e logo é assediada por todos na casa: pela madrasta, pelo criado e pelo assistente de laboratório do pai. A vingança pelo assédio vem na forma de uma serpente que o pai utilizava para os experimentos: um por um os tarados vão sendo mortos por ela. Entre o réptil e a virgem se estabelece uma relação de amor, que vai culminar com uma cena única no cinema, e que não contarei aqui, mas que garanto que é o ápice da zoofilia no cinema. Afinal não recordo de ter visto uma mulher fazer amor com uma serpente.O diretor Raniero di Giovanbattista, não teve carreira longa no cinema, com apenas quatro filmes assinalados pelo IMDB.A trilha do genial Stelvio Cipriani dispensa comentários. O filme até pouco era tido como raro e obscuro, não consegui, por exemplo, encontrar nenhum comentário e respeito dele, deu enfim as caras agora em sites e pode ser encontrado no Eurotorrents.
segunda-feira, 3 de junho de 2013
Thirsty for Love, Sex and Murder (Aska Susayanlar Seks Ve Cinayet )-1972
Minhas manias cinematográficas são muitas, ou paixões, para
usar um termo mais elevado. Algumas antigas, caso do giallo e do gótico
italiano, ou dos japas, outras relativamente recentes, caso do cinema turco dos
anos 60 e 70. A medida que vou descobrindo novos filmes nesse universo mais e
mais me entusiasmo. Este que relembro agora é um dos clássicos do período áureo
da explotation turca. O bom é que ele existe em versão legendada.
Infelizmente são muitos os filmes de lá que ainda permanecem inacessíveis pela
ausência de legendas. Confesso que não tenho muita paciência para assistir um
filme cuja língua não compreendo lhufas. Até faço download de um filme chinês, filipino , turco ou alemão quando vejo
que é muito interessante, e sempre pode um dia aparecer legendas para ele, mas
raramente assisto-o sem não consigo legendas. O título original em turco é "Aska susayanlar
seks ve cinayet". Como só conheço uma única palavra da língua, não fazia ideia
do que significaria este título. Verificando o Google pude constatar que o título
inglês é literal. Todos os blogs gringos que consultei assinalam que o filme é
uma cópia ou refilmagem de um giallo clássico de Sérgio Martino ”O estranho
Vício da Sra Ward”, que já assisti faz muito tempo e do qual não lembro muito.
Portanto nenhuma comparação posso fazer entre o suposto original e a cópia. Mas à exceção da língua falada pelos
personagens, de algumas paisagens, nada indicaria que o filme se passa na
Turquia. Não há nenhuma indicação religiosa, exotismo, os personagens se vestem
à maneira ocidental, bebem álcool, e
fazem muito sexo, e por isso há muita nudez feminina ao longo do filme. Este
detalhe é um aspecto que pode causar estranheza, considerando-se que o
islamismo é uma religião extremamente avessa ao erotismo, como de resto o
cristianismo também. Mas o fato é que o cinema turco daqueles tempos deitou e
rolou no quesito da sensualidade. A maré permissiva, no entanto duraria pouco,
e muitos filmes tiveram cópias destruídas pelos moralistas. Desnecessário dizer
que as novas gerações turcas praticamente ignoram essa linha da cinematografia
local. Nada muito diferente daqui com o cinema da Boca, objeto de desprezo e
deboche por nove entre dez cinéfilos canônicos. Lá imagino que seja a mesma
coisa. Tive uma amiga turca no Facebook, era apreciadora de cinema e nunca
tinha ouvido falar dos filmes desse tipo. O que encanta nos filmes turcos e
nesse fica bem evidente é a sensação de alucinação que perpassa por todo o
filme. Essa sensação é acentuada pelos ângulos inusitados de câmera, o ritmo
desconexo da trama e o erotismo exacerbado. Dir-se-ia uma viagem lisérgica,
onde nós espectadores somos convidados a adentrar em um pesadelo. Temos uma mulher casada, com um
sujeito impotente, e ela ao que parece foi estuprada por um sujeito. Mas foi
mesmo um estupro ou seria simplesmente
uma relação sadomasoquista? Ambiguidade. Como todo giallo que se preze a trama
não faz muito sentido se tomada ao pé da letra. O que importa no gênero é o
estilo sobre a substância, sempre. Aqui no caso um giallo com tempero otomano. Mehmet
Aslan, diretor prolífico na cinematografia turca assina a direção. No elenco nomes como Kadir Inanir,Meral Zeren,Eva
Bender,Yldirim Gencer. O filme pode ser encontrado no Eurotorrents e no
PirateBay também.
sexta-feira, 24 de maio de 2013
La Tigresa- 1969
A paixão pelo cinema reserva a cada momento descobertas ou
redescobertas. Sempre fui movido pela curiosidade nessa paixão. Acho engraçado quando converso com amigos cinéfilos da minha
geração, da minha juventude, e vejo que todos, sem exceção continuam a gostar
dos mesmos filmes que assistíamos nos cineclubes, conservam as mesmas
admirações, e vários sequer conhecem o cinema posterior aos anos 90.
Desnecessário dizer que do passado, do cinema que lhes foi contemporâneo
desconhecem aquilo que naqueles tempos nos era desconhecido. Como disse, sempre
fui movido pela inquietude. Quando jovem assistia todos os filmes possíveis no
cinema ou na TV sem preocupação nenhuma com pretensões artísticas. Como
qualquer garoto da época adorava um faroeste, filmes de Tarzan, Santo, Zorro,
Hércules e os pepluns em geral, entre outros mais. As sessões domingueiras do
maravilhoso Cine Ipiranga inolvidáveis. Não sei por que, aliás, meu blog não se
chama Cine Ipiranga. Seria uma boa homenagem. O imóvel continua lá na Rua Jacuí
desafiando minha memória, mas agora, nada de cinema, apenas uma loja de móveis,
uma piada sem graça, quase um insulto, com meu passado. Cresci e descobri Fellini, Visconti, Godard, cinema novo, Buñuel, o cinema americano
clássico e por aí afora. Outro olhar sobre o cinema, política de autor, cinema
como arte, papos cabeças noite adentro sobre estética, escolas. Durante alguns
anos militância em cineclubes. O surgimento do VHS, e posteriormente do DVD ,
da TV à cabo, nos possibilitou descobrir o velho e o novo, mundos novos se
descortinaram para mim. E de certa maneira fechou-se um círculo, um retorno aos
tempos do Cine Ipiranga, um resgate. Longo introito para falar que a cada dia
ainda descubro filmes, cineastas, filmografias. Impossível abarcar tudo aqui no
blog, por exemplo. Seria ótimo criar blogs específicos apara cada paixão, mas teria que fazer um sobre cinema asiático(japas,
coreanos, indonésios, turcos, tailandeses e filipinos), outro sobre noir,
westerns, outro sobre exploitation, giallo, boca do lixo, cinema mexicano , a
lista é grande. Quedo-me quase paralisado, essa é a verdade. O filme que
relembro estava escondido há algum tempo numa pasta reservada ao cinema
mexicano, objeto de minha especial predileção.
Os astecas tiveram sua idade de ouro entre os anos 50 e
80, em todos os gêneros populares possíveis. Volto e meia assisto filmes que me
impressionam pela ousadia e alucinação. Não á toa o surrealismo foi uma
corrente artística que influenciou muito a arte e o cinema mexicanos. Bem, mas
o filme, para minha surpresa, não era
mexicano, e sim porto-riquenho. Confundi com um filme mexicano homônimo do
gigante René Cardona Jr, que infelizmente nunca encontrei. Um filme oriundo da
comunidade nuyorican , os hispanos de Porto Rico que imigraram para New York.
Uma cena cinematográfica breve e curiosa, do qual o filme que relembro é dos
mais significativos, e com uma vantagem: está fácil de encontrar no YouTube. Direção de
Glauco del Mar, realizador de cinco filmes apenas. Perla Faith é a jovem Patrícia
que sofre nas ruas do Spanish Harlem. Um grupo de mulheres, nadadoras e
lésbicas a maltrata todo o tempo. O pai é um bebum. O inferno da moça só piora:
o pai é morto num assalto e ela é estuprada. Menos mal que o patrão da loja
onde trabalhava, um velho judeu, morre pouco depois e lhe deixa toda a herança.
Da noite para o dia ela se torna
milionária. Repagina o visual, compra um clube noturno, e parte para a
vingança. A única pista do estuprador e assassino era uma marca nas costas. Com
a ajuda de um detetive , um gangster e um travesti - trio realmente absurdo - percorre as academias
e as ruas de NY em uma extravagante busca pelo suspeito. O policial chega, por exemplo, a se disfarçar de mulher para procurar o
criminoso, e em uma cena particularmente bizarra, fica sugerido que ele fez um
“programa” e recebeu dinheiro de um homem. As sequências em que ela revista os
homens seminus nas academias são outras dignas de nota no quesito bizarro. Um
filme, que merece uma conferida e vai agradar a quem aprecia um filme com
personagens estranhos e uma trama desconexa mas sedutora.
quarta-feira, 8 de maio de 2013
Return of the Dragon - 1974
Bruce Lee morreu prematuramente de uma maneira controversa deixando uma legião de imitadores no cinema asiático e
até em países europeus e sul americanos, gerando um subgênero da exploitation, a brucexploitation.
O filipino Ramon Zamora foi um dos muitos que surgiu na cola do dragão chinês
do kung-fu anos 70. Dublê, comediante e ator de renome no país quando decidiu a
se aventurar pelos filmes de artes
marciais. Quando eu era adolescente a febre do kung-fu varria o Brasil e o
mundo. Infelizmente naquela época não pude assistir aos filmes estrelados por
Bruce Lee e tinha que me contentar com a série de TV americana estrelada pelo
Carradine. Ironicamente assisti no
cinema somente a uma das inúmeras imitações, com um lutador de nome Bruce Li. Outra
roubada foi ir ao cinema e para ver um
filme do lutador e dar de cara com uma simples colagem de episódios da série de
TV Besouro Verde, que ele estrelou no papel de Kato, assistente do herói. O
tempo passou e me desinteressei de Bruce Lee e do gênero. Confesso que até hoje
mantenho o desinteresse por ambos, apesar da paixão pelo cinema asiático mais
“weirdo”. Atraem-me somente os filmes de arte marciais insanos, que misturam
terror ou outros gêneros, e os deliberadamente toscos, que não se levam muito a
sério. O filme que relembro tem direção
do venerável Celso Ad.Castillo, um dos gigantes do cinema filipino e asiático
na era de ouro. À vontade em gêneros diversos: drama, terror, artes marciais,
erótico. Pena que boa parte da sua filmografia seja inacessível para nós
ocidentais. Já abordei aqui há algum tempo atrás o cinema filipino, sem dúvida
dos mais interessantes dos anos 60 e 70.
Ilha pequena de cinematografia monumental, e que ainda continua a produzir
filmes com regularidade, apesar da decadência. Ramon Zamora ,como lembrei acima
,era humorista e certamente por isso seus filmes de artes marciais abusavam do
humor. Felizmente não é o caso aqui. O filme se leva a sério, na medida certa,
e não tem enxertos com o humor oriental,
sem dúvida a parte mais chata do cinema daquelas bandas, para atrapalhar. Se
passa ao largo das piadas mequetrefes a violência
mais delirante tem lugar cativo na trama. O herói - de nome Pylon- trucida um
bando inteiro de lutadores, mas também leva surras homéricas, é quase morto,
tem as mãos perfuradas por tiros e estacas, vê sua amada ser estuprada e assassinada,
e parte para uma sanguinolenta vingança. A estética do spaghetti italiano é marcante e
dá um toque especial ao conjunto: a trilha sonora, por exemplo, é claramente
decalcada dos temas de Ennio Morricone. Interessante pensar que o spaghetti bebeu na fonte oriental – os filmes de
samurais, especialmente- e acabaria influenciando os filmes de artes marciais
posteriormente. Para os interessados em
conhecer este precursor dos filmes de Tarantino a boa notícia é que ele tem
completo no Youtube, dublado em inglês.
sexta-feira, 26 de abril de 2013
Schamlos - 1968
Uma raríssima exploitation vinda da Áustria pelas mãos de Eddy
Saller diretor falecido em 2003 que deixou
uma obra pequena de 5 filmes apenas. Se
não foi extensa nem por isso foi menos importante, além de ter nadado contra a
corrente cinematográfica que imperava no país, os dramas agridoces e românticos
(tipo “Sissi”, por exemplo) -, chocou pela violência, realismo e erotismo. E seria o guru de alguns diretores
como Klaus Lemke e Eckhart Scmidt, entre outros poucos. Existe hoje em Viena um
Instituto Schamlos , que realizada festivais e exibições de filmes
alternativos. Claro que a obra dessa turma passa ao largo do cinema alemão que
ficou conhecido em todo o mundo: Wenders, Fassbinder e Herzog à frente, todos
influenciados pela nouvelle-vague.
Seller pregava um cinema anti-intelectual, antes de tudo. No elenco um
rosto conhecido: Udo Kier, de trajetória gloriosa no cinema europeu e mundial,
aqui fazendo sua estreia. Mas quem brilha é a gata Marina Paal, sexy , amoral e
perigosa. Incrivelmente só atuou em
dois filmes e desapareceu sem deixar
vestígios. Ela é Annabelle, uma stripper que não tem escrúpulos
em trabalhar como prostituta e se deixar vender para mafiosos. Acalenta um sonho: se tornar estrela de cinema,
mas não consegue muito mais do que atuar em filmes pornográficos feitos para
chantagear velhos tarados. O gigolô e amante é Pohlman (Udo Kier), um gangster medíocre,
evadido de um circo onde era atirador de facas, que vive de oferecer “proteção
“ a comerciantes, e quando leva cano não hesita em usar da violência mais
sádica e alucinada possível. Os letreiros iniciais informam – com alguma
ironia -, que gangsteres reais
trabalharam no filme. É um detalhe que
ressalta o aspecto quase de documentário do filme. O pano de fundo onde estes seres marginais se
movem é uma Viena imaginária habitada por gangsteres gays, drogas, rock, strippers,
putas e bares enfumaçados onde artistas do movimento Aktionist encenam
performances selvagens. Um retrato da
contracultura vienense nos anos 60. Os atos impuros e escusos da bela Annebelle
acabam resultando em seu assassinato. O pai, um italiano, contrata Pohlman para
caçar o suspeito do crime, um ator decadente, gay e drogado, que foi
considerado inocente pela polícia e solto. Direção nervosa e febril, com influências
de Lang e Fuller. Do primeiro ela é evidente nas sequências do julgamento que remetem ao clássico ” M - O Vampiro de
Dusseldorf”; do segundo a violência estilizada. “Sem Vergonha” é o título do
filme, numa tradução literal. A trilha sonora fantástica de Gerhard Heinz é
dado que não pode deixar de ser citado. O filme só foi reeditado em DVD há
pouco tempo na Europa e deu as caras nos sites de compartilhamento, felizmente.
linK:
http://wipfilms.net/surreal-movies-collection/shameless/
quinta-feira, 18 de abril de 2013
Il Demonio - 1963
Classificar um filme como obra-prima é sempre algo que exige
cuidado, mas no caso desse que relembro não há nada de audacioso pois não estou sozinho na afirmativa, compartilhada
por inúmeros críticos e blogueiros espalhados por este mundo do cinema. Como
seria de se esperar é ainda inédito no
Brasil e raro nos sites de compartilhamento. Foi exibido, é verdade em nossos
cinemas na década de sessenta. A obra de Brunello Rondi, fantástico roteirista
de alguns clássicos de Fellini, e dono
de uma filmografia pequena como diretor- 10 filmes apenas -, é valiosa e vem sendo revalorizada. O cinema italiano
sempre nos brinda com essas surpresas fantásticas pelas mãos de diretores que
tem pouca divulgação por essas bandas. Um amigo me mostrou faz alguns dias uma longa
matéria sobre o cinema italiano em uma das poucas revistas culturais que
podemos encontrar nas nossas bancas. Fui lendo, lendo e não vi nada diferente
do trivial que qualquer cinéfilo já sabe: neorrealismo, Pasolini, Fellini,
Antonioni, Rosselini, e outros nomes batidos e facilmente citados em qualquer
história do cinema. Nada de nomes como Dallamano, Bava, Polselli, Cavallone,
Martino, ou mesmo um Valério Zurlini, para ficar em nomes que lá fora são
conhecidos e citados. Confesso que fiquei irritado: estava diante da velha
situação de divulgação do “manjado”, do canônico, das vacas sagradas, que encontramos em
praticamente todas as publicações do país. Preguiça ou falta de conhecimento? Regurgitar
informações batidas, exaltar nomes que já são ícones. O que seria do cinéfilo
mais curioso e interessado senão existissem os blogs? No meu caso particular graças ao saudoso
Carlos Reichenbach em seu blog “Olhos Livres”, meu conhecimento do cinema italiano,
para além dos manjados, se abriu muito com suas dicas inestimáveis e únicas. Daliah
Levi, belíssima atriz israelense, em atuação magnífica interpretando Puri, uma
camponesa. Ainda que o filme fosse uma bomba, só pela presença dela já valeria assisti-lo, tal a força e a sensualidade que injeta de cada fotograma. O cenário é a rústica
Lucânia, no Sul da Itália, região de um catolicismo primitivo, quase pagão, que
guarda muitas semelhanças com o nosso Nordeste. Dir-se-ia que a história se passa num espaço
atemporal mais próximo de uma Idade
Média. Um dos raros críticos que elogiou o filme na época da estreia
classificou-o como a primeira obra surrealista da cinematografia italiana. E de
fato quem lembra do documentário “Las
Hurdes” de Buñuel poderá perceber alguns elementos em comum. E mais que isso o
surrealismo está presente no espírito e nos temas: amor louco, esoterismo
desenfreado, crítica á religião, entre outras coisas. Temos uma história de amor desesperada e triste:
Puri ama loucamente Antônio, mas não é
correspondida e é rejeitada. Aos olhos dos camponeses ela é uma bruxa,
responsável pelas desgraças que assolam o povoado, e ela crê que seja o que
todos pensam. A sequência inicial é uma
detalhada preparação de um feitiço com o qual ela pretende conquistar o amado que
está prestes a se casar. “La Fiancée du Pirate” de Nelly Kaplan, paradigma do
cinema surrealista, lançado em 1969, e comentado aqui no blog, guarda semelhanças
profundas com o filme de Rondi. Em ambos os filmes as heroínas são camponesas
que vivem isoladas, estigmatizadas pelos vizinhos primitivos e brutos e tidas
como bruxas. Uma declaração interessante de Brunello Rondi ajuda entender o
comportamento de Puri: “Minhas
personagens femininas expressam suas neuroses através do corpo”. Nesse ambiente quase
selvagem onde paganismo e cristianismo
se confundem, o grito de revolta de Puri
é narrado de maneira quase documental, seca e áspera. Um detalhe interessante:
Rondi trabalhou com Rosselini, pai do neorrealismo. Cenas marcantes: o encontro
com um rapazinho à beira de um rio; os camponeses levando as tochas pela aldeia
e erguendo uma fogueira, cena que remete aos melhores momentos góticos dos
filmes de Mario Bava, realizados na mesma época. De certa forma o que o espectador
tem é um tratamento mais seco da
temática dos filmes góticos em voga
naquela época, realizados pelo já citado Bava, e por outros diretores. Destaque-se as sequências do
exorcismo de Puri: seguramente William Friedkin e William Peter Blatty, diretor
e roteirista de “O Exorcista” respectivamente, viram o filme de Rondi. Um
filme, enfim a ser redescoberto em nosso
país. Para deleite dos interessados existe uma ótima cópia legendada em
espanhol no Youtube.
Link:
http://www.youtube.com/watch?v=gPcODyIjKNQ
sexta-feira, 12 de abril de 2013
Blood Mania - 1970
Um título enganoso,
pois me fez pensar que estava diante de
um slasher sanguinolento (gênero que não aprecio muito), mas encontrei algo bem
mais interessante do que simplesmente jorros de sangue em profusão: Sexo softcore, melodrama, terror, thriller
psicológico e comédia de humor negro no balaio, menos blood(sangue) e mais
boobs(peitos). O resultado é um filme, obviamente, confuso, pretencioso e
bizarro para os padrões de bom gosto. O
que claro, não é ruim. Já expressei aqui inúmeras vezes meu fascínio por estes
filmes onde a insanidade parece tomar conta até do diretor. Tenho mesmo um
fraco por filmes imperfeitos, grotescos
e incoerentes, onde o pulso ainda pulsa, mesmo que seja em uma única
sequência. O filme foi motivo de piada na “Frightmare The Series”, um dos
incontáveis programas de TV americanos que exibiam filmes B com intenções de
deboche( O vídeo pode ser visto no Youtube). Uma produção da fantástica Crown
International Pictures, uma das melhores produtoras de filmes Bs dos anos 60 e
70. Direção de Robert Vincent O ‘Neil, uma carreira curta com apenas 8 filmes, diga-se
passagem, quase todos ótimos. Realizado
nos tempos áureos da exploitation americana, na virada da década de 70, tempos em que
o espírito de liberdade imperava até no mainstream americano. Drogas, sexo,
feminismo, racismo, tratados com desenvoltura como nunca mais aconteceria, e
longe da caretice do politicamente correto. O filme que relembro não tem, por
exemplo, nenhum personagem que seja remotamente simpático ou normal. Todos
deixariam nosso Nelson atarantado e se achando o maior dos caretas ( que ele era mesmo,
aliás). Os críticos e comentaristas do filme apontam o aspecto de “soap opera”
do filme, e afinal o que temos é o
retrato singelo de uma família tratada como uma novela das oito imoral e grotesca. Pai incestuoso, uma filha ninfomaníaca e
psicopata, a outra tola e lésbica, e no
meio o médico inescrupuloso e com uma namorada
que não hesita em transar com o chantagista do namorado para tentar livrar a
cara dele. Maria de Aragon, de nome hispano, mas nascida no Canadá, teve neste
filme seu papel mais relevante. Ela chegaria até a atuar em um dos filmes da série Guerra nas Estrelas alguns anos
depois. Nessa época estava casada com Peter Carpenter, ator e roteirista do
filme. Ele é Craig , médico picareta, chantageado
por um ex-parceiro, precisa arranjar com urgência 50 mil dólares, caso
contrário seu passado como especialista em abortos seria revelado e arruinaria
a sua carreira. Para sua sorte, ou azar, Victoria(Maria de Aragon), uma
ninfomaníaca rica, que se distraia pintando enquanto o pai permanecia travado
numa cama, lhe oferece o dinheiro em troca de favores sexuais. Para conseguir a
grana a moça não hesita em matar o pai com uma overdose. O testamento aberto e uma
surpresa desagradável: para Victoria apenas uma pensão semanal de 250 dólares,
e toda a fortuna para a irmã mais nova. E adivinhem o que nosso herói faz?
Abandona Victória imediatamente e seduz a irmã rica. A destacar a ótima
trilha sonora a cargo de Don Vicent, a bela fotografia e a direção estilizada .
Um filme a conferir e que pode ser encontrado no Youtube na “Frightmare The Serie”, como disse anteriormente.
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