quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Byleth -O Dêmonio do Incesto - 1972


Uma pequeno e obscuro exemplar do eurotrash dos anos 70, mais precisamente vindo da Itália, pródiga em realizar este tipo de filmes que combinavam erotismo acentuado, horror, violëncia e o que mais tivesse à mão para atrair público e causar impacto. Este filme foi dirigido pelo igualmente obscuro Leopoldo Savona, mais “conhecido”por haver realizado alguns westerns spaghetti lembrados apenas por fãs mais empedernidos. Fugindo completamente ao estilo acima, temos aqui outra típica producao pensinular do período e que fará o deleite dos apreciadores da exploitation . Para quem acha que cinema italiano é Fellini, Pasolini e cia ltda, melhor passar longe. Aqui temos um filme estritamente popular, como só os italianos sabiam fazer. e que causaria indignacão aos cinéfilos puristas. “Byleth – O dêmonio do incesto” tem nudez de sobra para os voyeurs, com belas mulheres se desnudando a todo momento; atores canastrões e uma trama que beira o nonsense e o incoerente às vezes. E apesar de tudo, que deleite este filme !

A trama é ambientada no sec 19 e traz elementos das narrativas góticas , emprestando ao filme uma atmosfera irreal , quase surrealista. Mark Damon, ator canastrão e conhecido por trabalhar até com Roger Corman, é Lionello, um nobre melancólico e que nutre uma paixão incestuosa pela irmã Bárbara (Claudia Gravy) . Após uma longa ausência ele retorna ao castelo da família e a encontra, agora casada.. Sua chegada coincide com o ínicio de uma série de misteriosos e brutais assassinatos de mulheres da região. Entramos então no terreno do giallo, gênero fecundo do cinema popular italiano do período. O filme se desenvolve de maneira contemplativa e ambígua: tudo pode nao passar afinal de contas de um produto da mente doentia de Lionello. Um pesadelo.

O filme foi uma dica do querido Carlos Reichenbach , em seu blog “Reduto do Comodoro” e que além de sempre indicar filmes raros como este, vez ou outra dispõe para o público de links para downloads de filmes especiais.

“Byleth”nunca foi exibido comercialmente no Brasil, ao que parece, mas é agora facilmente encontrado na internet para baixar. Quem tem gosto cinematográfico despido de preconceitos pode arriscar

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Curse of undead - 1959


Eis aqui um filme que sempre me atraiu por diversas razões Algumas razões de ordem afetiva que remetem à minha infância . A primeira vez que assisti este filme foi numa sessão noturna da TV Itacolomi, la na pequena Paraopeba, e como era de se esperar me impressionou vivamente aquele filme em que o pistoleiro era um vampiro e nunca mais aquelas imagens sairam da cabeça. Os anos se passaram e o nome do filme sumiu na memória, mas não algumas imagens. Já adulto, graças a um amigo cinéfilo, o mistério se desfez e foi revelado o nome do filme : “The curse of undead “. Um legítimo filme B e provavelmente a raiz do meu fascínio pelo universo do filme B. Uma viagem de férias a Nova York quatorze anos atrás me permitiu adquirir um VHs do filme. A busca por ele exigiu caminhadas pelas ruas do Village , entrando e saindo de pequenas lojas de filmes, ate que numa da Bleecker Street pude enfim reencontrar essa autêntica madeleine da minha infância. Já agora nos tempos digitais descobri com pesar que não este filme permance inédito no formato DVD . Com algum dose de persistência pude encontrá-lo para download num site de compartilhamento e pela terceira vez reencontrei esta pequena jóia do filme B. Estamos aqui diante de um dos filmes mais singulares desse universo tão particular pois trata-se de uma mistura de dois gêneros aparentemente opostos: o western e o filme de terror. Edward Dein, o diretor e também roteirista do filme, juntamente com a esposa, obviamente não tinha muito recuros para realizar o filme e teve que apostar num bom elenco encabeçados por Eric Fleming, no papel de Dan, e Michael Pate , no papel de Drake , o pistoleiro vampiro. Diga-se de passagem que Pate, oriundo da Austrália foi um renomado crítico teatral e e depois foi produtor cinematográfico e diretor de filmes, sendo inclusive responsável pela estréia no cinema do astro Mel Gibson. Além do bom elenco o recurso foi enfatizar o clima fantasmagórico com efeitos sonoros feitos por um teremin e a explorar o cenário desolado de uma cidade quase fantasma, onde praticamente não se vê nenhum ser vivo. A trama é relativamente simples: um estranho e soturno pistoleiro chega à cidade e é contratado pela mocinha Dolores, para cuidar do rancho. O namorado, Dan, que é tambem pastor da cidade, logo começa a perceber que há algo estranho com o pistoleiro e tenta dissuadir a namorada da idéia de mante-lo no rancho. O conflito é inevitável e leva ao inusitado duelo final entre um pastor e um pistoleiro, que se revela um vampiro. Sem dúvida um dos faroestes mais bizarros da história. Ainda ontem num encontro com amigos estavamos recordando alguns westerns com duelos bizarros e citamos este filme como digno de figurar numa hipotética lista dos dez mais do faroeste no quesito estranheza. Lembrando ainda que outra pérola B seria feita depois quase nos mesmos moldes : “Billy the Kid contra Drácula “, com John Carradine no elenco e que praticamente emulou a estrutura narravativa do filme de Edward Dein, com resultados inferiores, mas igualmente curiosos .

O Cangaceiro - 1970 -

Ao contrário do que eu havia presumido inicialmente não estamos aqui diante de uma refilmagem do clássico brasileiro do diretor Lima Barreto que tem o mesmo título. Estamos diante de uma obra ítalo-espanhola e com história diferente. Curiosamente a contracapa de uma edicao européia do dvd assinala que trata-se uma refilmagem. Nada a ver. Este filme que abordo aqui é um híbrido de gêneros que só o cinema italiano popular dos anos 60/70 era capaz de produzir. E aqui temos um filme de cangaceiros, como o título obviamente mostra, com elementos de western spaghetti, que naquele ano – 1970 – vivia sua fase de ouro. Filmado com certeza aqui no Brasil e , curioso , praticamente não tem ninguem daqui no elenco ou na equipe técnica, à excecao de uma espantosa e inusitada figuracão que por si só já tornaria o filme digno de nota : Baby Consuelo, a Baby do Brasil, entao vocalista dos Novos Baianos, fazendo uma ponta logo no ínicio do filme. Singular. filme de Giovanni Fago, diretor italiano obscuro e tambem um dos roteiristas do filme, ao lado do espanhol José Luiz Jerez Aloza, comeca com a trama clássica das histórias de cangaco: a vinganca. Espedito , quando tem ínicio a história , é um sertanejo simples, que após ver seu pai e sua vaca serem mortos pelos volantes, decide buscar sua vendetta. E faz questão de dizer que busca a vinganca porque mataram ..sua vaca. Hilário e bizarro. Salvo e curado por um ermitão, com tracos típicos dos beatos nordestinos, o rapaz se transforma numa espécie de andarilho místico pregando pela caatinga. Logo percebe, no entanto, que este não seria o melhor caminho e forma seu bando de cangaceiros. Thomas Milian, um ator de renome e atuante ate hoje, tem uma interpretacão a meio caminho entre o cômico e absurdo , que lembra Johnny Depp como o pirata maluco de “Piratas do caribe”. A questão política nordestina serve como pano de fundo da história. A exploracão do petroleo é a principal motivacão dos poderosos para massacrarem os cangaceiros e os camponeses. Sem dúvida o diretor buscou aqui inspiracao nos filmes de cangaco realizados por Glauber Rocha nos anos 60 e que tinham Antônio das Mortes, como personagem principal. Todo o filme tem uma aura quase surreal e barroca, involuntária as vezes. Sem dúvida, é o filme mais bizarro já feito sobre os bandoleiros nordestinos, aparte nosso nacional “Kung Fu Contra as Bonecas” (mas neste caso tratava-se uma comédia ) . Imaginem sò: em umas das sequências o bando de cangaceiro enfrenta gangsters americanos, trazidos da América, com metralhadoras e tudo ! Surreal ate a médula. Em outra sequência igualmente quase absurda , os camponeses de uma vila, desmontam o carro de um engenheiro e só deixam do mesmo a carcassa…. Outra sequência de destaque é a do baile oferecido pelo governador sacana aos cangaceiros: o jantar que comeca pomposo, ao som de uma orquestra tocando sonatas e valsas , termina com um forró alucinado, com serventes, cangaceiros, madames e o escambau , dançando pelo salão ao som da mesma orquestra agora envenenada com zamumbas e tambores. Até o arcebispo é flagrado batendo os pezinhos ao som do forró. Por um instante vislumbrei toques bunuelianos. Involuntário e insano. Só uma arte popular como o cinema permite este crossover entre popular e, digamos assim, erudito.Não pude averiguar com seguranca se este filme foi exibido no Brasil na época. Provavelmente não, haja vista o fundo político espinhoso para a entao ditadura militar. Comparado aos nossos filmes de cangaceiros que tambem viviam seu auge, esta obra estrangeira não faz feio, apesar da infelidade histórica e anacronismos. Nossos filmes do ciclo do cangaco tambem raramente primaram pela fidelidade. Com raras excecões tivemos faroestes disfarcados de filmes de cangaco. Troque as vestimentas e a trilha sonora e teremos um western como outro qualquer. O filme não é uma obra-prima do cinema: - trata-se uma obra cinematográfica dentro dos padrões do cinema italiano popular dos anos 70 e que agora estao sendo revalorizados e apreciados gracas aos blogs e cineastas como Quentin Tarantino e Robert Rodriguez , entre outros. Mas é um um fime digno de ser visto.
-
-

quinta-feira, 26 de agosto de 2010


Ride the pink Horse - 1947

Nem preciso dizer que tenho um fraco por filmes noir. Eta generozinho sedutor e fascinante. Alias, dizer que Noir é um gênero é meio que forcar a barra. Muito filme enquadrado no gênero não tem nada realmente com ele. Muito mai do que um gênero, estamos diante de um estilo muito particular que se desenvolveu no cinema americano nos anos 40 e se estenderia ate meados dos anos 50.
E descobrir um novo/velho filme é sempre um prazer. Caso desse “Ride the Pink Horse “ dirigido pelo ator Robert Montgomery em 1947, para a Universal. No Brasil recebeu o título melodramático e abolerado de “Do Lodo brotou uma flor “. Vá la entender o que se passava pela cuca dos caras que faziam esses títulos. No roteiro o grande Bem Hetch, baseado numa novela de Dorothy Hughes.
Este é por assim dizer um noir típico, com todos os seus ingredientes básicos: a trama se desenvolve em torno de um ex-combatente que chega a uma pequena cidade do Novo México para vingar a morte de um amigo e chantageia o chefão do crime local, responsável pela morte. O diretor desfila os temas clássicos do noir: cinismo, desencanto (nos diálogos secos e cortantes) ; a femme fatale; a brutalidade. Montgomery, mais conhecido pelo trabalho de ator, surpreende com uma direcão requintada e sutil. A narrativa se mantem ambígua e oblíqua ate o desenlace final. E o fim é cínico e desencantado , muito longe de um happy end reconfortante. Estamos diante de um filme sobre as escolhas e opcões que um homem tem que fazer na vida. Uma fábula amoral e melancólica., não sem um resquício de ironia quando a pequena mexicana que ajudara Gagin conta para os amigos o que havia se passado. Alguns consideram este exemplar do filme noir um dos 10 melhores já realizados. Concordo plenamente com a inclusão dessa jóia nessa lista… .

sábado, 3 de abril de 2010

Dog Eat Dog - 1963




Grande achado esse filme. Alias so o descobri devido as dicas sempre otimas do meu amigo Paulo Augusto. E, abrindo um parentesis, e gracas a suas dicas que tomei contato com a obra de Joseph H. Lewis , um dos meus cineastas americanos favoritos. Falando em diretor o primeiro aspecto que chama a atencao em "Dog Eat Dog " e o fato de que 3 diretores tocaram o filme, sem contar uma maozinha extra de Albert Zugsmith. Ray Nazzaro e Richard Cunha dirigiram o filme , mas Gustav Gravin, alemao, assinou o filme. Esse excesso de maos atras das cameras e mais uma penca de problemas durante, antes e apos as filmagens indicavam uma catastrofe cinematografica. E contrariando todas essas expectativas eis que estamos diante de um filme singular. Uma pequena obra prima do cinema B. Ao que tudo indica o filme nasceu de uma tentativa desesperada dos produtores de reerguer a carreira -entao em franco declinio - de Jayne Mansfield, uma sub Marylin Monroe, que teve ascensao meteorica mas que rapidamente perdeu prestigio e so se manteve em evidencia nas colunas de fofocas. Registre-se que a atriz foi a primeira a aparecer nua em uma producao cinematografica, no filme "Promises, Promises" realizado no ano anterior ao nosso filme. Outro fato curioso na carreira da atriz : para atuar em seu primeiro filme ela teve que pagar ! Em "Dog eat Dog" ela estava gravida de quatro meses, um dos motivos pelas confusoes nas filmagens, e os diretores tiveram trabalho extra para disfarcar seu estado interessante.
Bizarro, frenetico, louco, sao adjetivos que poderiam definir esse filme tao conturbado. Eu diria que e um cruzamento de Samuel Fuller com Russ Meyer. Ou seja : um noir de baixo orcamento - low budget - com toques de explotation. A historia de tres bandidos que realizam um grande roubo e buscam refugio numa ilha deserta e narrada em ritmo alucinante. Os atores incorporaram bem o clima absurdo e quase surreal da historia e atuaram de maneira embriagante e alucinada. Quando chegam a ilha no Mediterraneo , descobrem que a mesma nao estava abandonada. La encontram uma velha milionaria louca e seu mordomo, careca e gordo, meio louco tambem. Uma parodia da obra-prima de Billy Wilder, "Sunset Boulevard"? . A sequencia inicial e excelente e impactante, digna da abertura de "Naked Kiss " de Fuller -para mim umas melhores sequencias do cinema : Jayne, de babydoll, rolando na cama envolta em milhares de notas de dolares e rindo freneticamente. Muito boa mesmo. O filme , infelizmente ainda nao teve edicao nacional em dvd . Mas na decada de sessenta foi exibido por aqui, inclusive em BH, e mereceu criticas elogiosas do jornal Correio da Manha. O titulo nacional foi "O crime caminha ao meu lado ".