Estas são apenas algumas observações rápidas e sem nenhuma pretensão de aprofundamento critico depois de ter visto alguns filmes brasileiros por esses dias. Filmes esses, que graças à internet e seus canais de compartilhamento pude apreciar. Sempre que posso assisto a um filme brasileiro - digamos que ser quase uma obrigação. Alguns desses que vi esses dias me encantaram e surpreenderam :outros nem tanto e me irritaram profundamente. Vamos lá, pois.
"Kung Fu Contra As Bonecas ", sim é esse o titulo mesmo, foi dirigido por Adriano Stuart em 1975. Por sorte foi resgatado do limbo da nossa história cinematográfica graças ao Canal Brasil, que o exibiu algumas vezes. Tai um filme de um tempo em que os cineastas brasileiros não tinham medo e mergulhavam fundo -quando necessário - na paródia e no achincalhe. Tradição essa, iniciada nos bons tempos das chanchadas da Atlântida e que o pessoal da chamada pornochanchada - principalmente - preservou. Os grandes sucessos de bilheteria do cinema americana eram impiedosamente revisados e parodiados de maneira quase sempre tosca e irreverente. Adriano Stuart, por exemplo, perpetraria outra paródia alucinada: "Bacalhau", um deboche colossal em cima do "Tubarão" de Spielberg.
"Kung Fu Contra as Bonecas "achincalha um grande sucesso das nossas Tvs daqueles tempos: o seriado " Kung Fu" com David Carradine.Nao tinha um garoto daquela época que não assistisse ao seriado. O detalhe é que o filme parodia também uma tradição cinematográfica nossa e que naquele período ainda fazia sucesso nos cinemas: os filmes de cangaceiros - quase todos dirigidos pelo Carlos Coimbra, falecido recentemente. As Bonecas em questão são sim, de verdade, os cangaceiros!
A história da vingança do nosso lutador de kung fu contra o bando de cangaceiros boiolas que mataram sua família é só uma desculpa para uma inacreditável sucessão de gags hilariantes e absurdas beirando o surrealismo mais puro. Nem precisa dizer que o politicamente correto - felizmente - passava longe.
O Bando de cangaceiros além de certa boiolagem tem números nas costas dos uniformes - como em times de futebol. O camisa 10- e claro que pertence ao chefão Azulão, interpretado, of course, por Mauricio do Valle -o imortal Antônio das Mortes dos filmes de Glauber Rocha. Para puxar saco do chefão os cangaceiros sempre cantam... Camisa 10 de Hélio Matheus. E em plena caatinga os cangaceiros tem que bater relógio de ponto. Uma gag especialmente brilhante é quando o cangaceiro Azulão canta Assis Valente e sua “Uva de Caminhão “. Demais O nosso herói vingador até arruma uma namorada que o ajuda na sua vingança.A deusa imortal da Boca do Lixo - Helena Ramos - é a moça em questão. E sabe-se lá como, também possui exímias habilidades em kung fu! Só que nosso herói é também meio aboiolado e não da muito no couro preferindo ensair o tempo todo uma flautinha à satisfazer a volúpia da mocinha. Como se verá no final, o herói vai se definir, sexualmente, digamos assim.
Em suma o filme é um barato total, pra usar uma gíria da época. Uma feliz descoberta.
Outra boa e realmente, agradável surpresa foi “A Fêmea do Mar”. O filme é de 1981 e tem direção de Ody Fraga. As musas da Boca,a deslumbrante Aldine Muller e a não menos Neide Ribeiro, são as estrelas do filme. O diretor e dublê de ator, Jean Garret também está nesse filme.
O catarinense Ody Fraga foi roteirista de mais de 50 filmes- em sua grande maioria - realizados na Boca, e dirigiu ainda uma quinzena de filmes,muitos de excelente feitura.Infelizmente já faleceu.
Numa excelente e reveladora entrevista que pesquei na net e feita por ocasião das filmagens, Ody Fraga - um homem culto, extremamente inteligente e original - revelava: " Sempre tive o desejo e a pretensão de fazer um filme dentro da estrutura do clássico, da tragédia grega e isso para mim é um desafio antigo e pretendo enfrentá-lo agora" O desafio a que ele se propôs foi atingido plenamente:o filme é um sólido e poderoso drama com toques sombrios de uma tragédia.
A história é ambientada numa ilha desabitada do litoral catarinense. Uma jovem mulher e seus dois filhos - um rapaz e uma moça(sendo que o rapaz cultiva uma paixão incestuosa pela irmã )vivem isolados. A mãe passa os dias mirando o horizonte a espera da volta do marido marinheiro. Um dia, finalmente, surge alguém: um marinheiro, que traz noticia sobre a morte do marido, e se dizia seu amigo.A chegada desse individuo misterioso - um sujeito que tem um discurso anárquico e niilista -desencadeia um processo repleto de tensões e angústias.
Ody Fraga cria uma atmosfera quase onírica e fantasmagórica. O engenhoso uso da trilha sonora - toda ela composta por temas clássicos de Offenbach - realçam planos e ângulos da câmera que me lembraram cenas do clássico maior do nosso cinema " Limite ". Proposital ou inconsciente? Uma boa pergunta que eu gostaria de fazer - se pudesse - para Ody. As cenas de sexo, longe de gratuitas e apelativas, são bonitas e perfeitamente inseridas no contexto da trama. Cenas lindas, leves e soltas.E Impensáveis no cinema brasileiro de hoje imerso na caretice mais infame.
" Fêmea do Mar " passa longe dessa caretice de hoje : e amoral, anárquico e sensual. Em suma: um grande filme e que merecia ser mais lembrado.
Corpo e alma de uma Mulher “ e de 1893 e tem também a mão de Ody Fraga .Mas só no roteiro e na produção. A direção dessa vez e do inominável e infame David Cardoso. Um blog que consultei em busca de maiores informações sobre esse filme o qualifica de um drama barato e de baixa qualidade, E acrescenta que seguindo a linha das pornochanchadas dos anos 80 não há o que de destacar no filme.
A citação mostra os preconceitos e juízos errôneos que cercam a história do cinema nacional. E no caso desse filme, os comentários acima me pareceram, após assisti-lo, inadequados. O filme é um BOM drama E está longeeee de ser uma pornochanchada.
David Cardoso é , no filme, Fernando um advogado criminalista. Curtindo as delícias extraconjugais com a secretária gostosa - Matilde Mastrangi numa rápida aparição - em Lisboa, e surpreendido pela notícia de que a esposa ficara paralítica. Obrigado a abandonar as opulentas curvas de La Mastrangi , o advogado se retira para uma fazenda isolada no Mato Grosso. A esposa em questão é a linda e - nova na época - Tássia Camargo , que entrevada numa cadeira de rodas, passa a ser cuidada por uma enfermeira. Helena Ramos interpreta o papel. Com este triângulo pode-se imaginar o que vem pela frente. O filme não é tão bom e redondo quanto o filme de Ody, mas tem méritos de sobra. Alguns pontos mostram as semelhanças com o filme anterior. Personagens isolados em local ermo. Tensões sexuais. E o discurso da enfermeira remete diretamente ao discurso niilista do marinheiro do filme de Ody. E a direção de David Cardoso é tudo menos ruim. Muitas sequências o demonstram. As interpretações não são aquela Brastemp ,mas se compararmos com esses "atores" globóides de agora...mereceriam todos os prêmios de melhor ator e atriz.
E por falar em globóides ,vi também 3 filmes que indiretamente - ou não - saíram da linha de montagem da vênus platinada, nossa Hollywood e nossa tumba cinematográfica. Nosso Taj Mahal de Mumbai.
"Bodas de Papel " dirigido por Andre Sturm é , por exemplo, produzido pela Globo Filmes -pelo que parece. O único mérito -relativo -que pude vislumbrar no filme foi a presença de Helena Ranaldi, uma mulher muito bonita. Só por causa dela acompanhei o filme ate a metade mais ou menos. Depois perdi a paciência com aquela história de amor sem graça e mal dirigida entre um arquiteto argentino e a personagem da Helena Ranaldi. Filmo bem aborrecido e fraquinho. Os diálogos são pueris e às vezes constrangedores. As cenas de sexo ruins e como era de se temer, caretas até o pescoço.
"O Homem que desafiou o diabo " tem direção de Moacyr Goes e foi lançado em 2007. Deve ter a chancela da Globo Filmes também. A produção traz aquele padrão dos casos especiais da TV . Ou seja, aquele pseudo padrão de qualidade artificial e pretencioso. O elenco e encabeçado por Marcos Palmeira , que sinceramente, só é ator por razoes familiares. O filme vai na cola das produções anteriores "Auto da Compadecida" e "Lisbela e o Prisioneiro ", Mas ao contrário das citadas acima falta-lhe a leveza e o humor. Uma produção bem cuidada diga-se de passagem - mas não consegue dar um pingo de graça e alma para esse filme insosso. Tenho a maior boa vontade com filmes nacionais. Mas os dois citados acima,sorry, não fui ate o fim.
O "Dia da Caca" com direção de Alberto Graca é de 1999. Tinha preguiça desse filme por causa da presença do Marcelo Antony. Mas o filme me surpreendeu agradavelmente. Um policial bem dirigido e com boas doses de suspense e reviravoltas na trama. Nos minutos finais o filme cai um pouquinho. O personagem do matador travesti interpretado por Paulo Vespúcio se sobressai e toma conta do filme. E aleluia: o diretor nao se furta a mostrar um belo corpo nu feminino por inteiro. No caso da atriz Barbara Schulz. No frigir dos ovos um filme que apreciei bastante e renovou minhas esperanças com essas produções recentes do nosso cinema.
"Kung Fu Contra As Bonecas ", sim é esse o titulo mesmo, foi dirigido por Adriano Stuart em 1975. Por sorte foi resgatado do limbo da nossa história cinematográfica graças ao Canal Brasil, que o exibiu algumas vezes. Tai um filme de um tempo em que os cineastas brasileiros não tinham medo e mergulhavam fundo -quando necessário - na paródia e no achincalhe. Tradição essa, iniciada nos bons tempos das chanchadas da Atlântida e que o pessoal da chamada pornochanchada - principalmente - preservou. Os grandes sucessos de bilheteria do cinema americana eram impiedosamente revisados e parodiados de maneira quase sempre tosca e irreverente. Adriano Stuart, por exemplo, perpetraria outra paródia alucinada: "Bacalhau", um deboche colossal em cima do "Tubarão" de Spielberg.
"Kung Fu Contra as Bonecas "achincalha um grande sucesso das nossas Tvs daqueles tempos: o seriado " Kung Fu" com David Carradine.Nao tinha um garoto daquela época que não assistisse ao seriado. O detalhe é que o filme parodia também uma tradição cinematográfica nossa e que naquele período ainda fazia sucesso nos cinemas: os filmes de cangaceiros - quase todos dirigidos pelo Carlos Coimbra, falecido recentemente. As Bonecas em questão são sim, de verdade, os cangaceiros!
A história da vingança do nosso lutador de kung fu contra o bando de cangaceiros boiolas que mataram sua família é só uma desculpa para uma inacreditável sucessão de gags hilariantes e absurdas beirando o surrealismo mais puro. Nem precisa dizer que o politicamente correto - felizmente - passava longe.
O Bando de cangaceiros além de certa boiolagem tem números nas costas dos uniformes - como em times de futebol. O camisa 10- e claro que pertence ao chefão Azulão, interpretado, of course, por Mauricio do Valle -o imortal Antônio das Mortes dos filmes de Glauber Rocha. Para puxar saco do chefão os cangaceiros sempre cantam... Camisa 10 de Hélio Matheus. E em plena caatinga os cangaceiros tem que bater relógio de ponto. Uma gag especialmente brilhante é quando o cangaceiro Azulão canta Assis Valente e sua “Uva de Caminhão “. Demais O nosso herói vingador até arruma uma namorada que o ajuda na sua vingança.A deusa imortal da Boca do Lixo - Helena Ramos - é a moça em questão. E sabe-se lá como, também possui exímias habilidades em kung fu! Só que nosso herói é também meio aboiolado e não da muito no couro preferindo ensair o tempo todo uma flautinha à satisfazer a volúpia da mocinha. Como se verá no final, o herói vai se definir, sexualmente, digamos assim.
Em suma o filme é um barato total, pra usar uma gíria da época. Uma feliz descoberta.
Outra boa e realmente, agradável surpresa foi “A Fêmea do Mar”. O filme é de 1981 e tem direção de Ody Fraga. As musas da Boca,a deslumbrante Aldine Muller e a não menos Neide Ribeiro, são as estrelas do filme. O diretor e dublê de ator, Jean Garret também está nesse filme.
O catarinense Ody Fraga foi roteirista de mais de 50 filmes- em sua grande maioria - realizados na Boca, e dirigiu ainda uma quinzena de filmes,muitos de excelente feitura.Infelizmente já faleceu.
Numa excelente e reveladora entrevista que pesquei na net e feita por ocasião das filmagens, Ody Fraga - um homem culto, extremamente inteligente e original - revelava: " Sempre tive o desejo e a pretensão de fazer um filme dentro da estrutura do clássico, da tragédia grega e isso para mim é um desafio antigo e pretendo enfrentá-lo agora" O desafio a que ele se propôs foi atingido plenamente:o filme é um sólido e poderoso drama com toques sombrios de uma tragédia.
A história é ambientada numa ilha desabitada do litoral catarinense. Uma jovem mulher e seus dois filhos - um rapaz e uma moça(sendo que o rapaz cultiva uma paixão incestuosa pela irmã )vivem isolados. A mãe passa os dias mirando o horizonte a espera da volta do marido marinheiro. Um dia, finalmente, surge alguém: um marinheiro, que traz noticia sobre a morte do marido, e se dizia seu amigo.A chegada desse individuo misterioso - um sujeito que tem um discurso anárquico e niilista -desencadeia um processo repleto de tensões e angústias.
Ody Fraga cria uma atmosfera quase onírica e fantasmagórica. O engenhoso uso da trilha sonora - toda ela composta por temas clássicos de Offenbach - realçam planos e ângulos da câmera que me lembraram cenas do clássico maior do nosso cinema " Limite ". Proposital ou inconsciente? Uma boa pergunta que eu gostaria de fazer - se pudesse - para Ody. As cenas de sexo, longe de gratuitas e apelativas, são bonitas e perfeitamente inseridas no contexto da trama. Cenas lindas, leves e soltas.E Impensáveis no cinema brasileiro de hoje imerso na caretice mais infame.
" Fêmea do Mar " passa longe dessa caretice de hoje : e amoral, anárquico e sensual. Em suma: um grande filme e que merecia ser mais lembrado.
Corpo e alma de uma Mulher “ e de 1893 e tem também a mão de Ody Fraga .Mas só no roteiro e na produção. A direção dessa vez e do inominável e infame David Cardoso. Um blog que consultei em busca de maiores informações sobre esse filme o qualifica de um drama barato e de baixa qualidade, E acrescenta que seguindo a linha das pornochanchadas dos anos 80 não há o que de destacar no filme.
A citação mostra os preconceitos e juízos errôneos que cercam a história do cinema nacional. E no caso desse filme, os comentários acima me pareceram, após assisti-lo, inadequados. O filme é um BOM drama E está longeeee de ser uma pornochanchada.
David Cardoso é , no filme, Fernando um advogado criminalista. Curtindo as delícias extraconjugais com a secretária gostosa - Matilde Mastrangi numa rápida aparição - em Lisboa, e surpreendido pela notícia de que a esposa ficara paralítica. Obrigado a abandonar as opulentas curvas de La Mastrangi , o advogado se retira para uma fazenda isolada no Mato Grosso. A esposa em questão é a linda e - nova na época - Tássia Camargo , que entrevada numa cadeira de rodas, passa a ser cuidada por uma enfermeira. Helena Ramos interpreta o papel. Com este triângulo pode-se imaginar o que vem pela frente. O filme não é tão bom e redondo quanto o filme de Ody, mas tem méritos de sobra. Alguns pontos mostram as semelhanças com o filme anterior. Personagens isolados em local ermo. Tensões sexuais. E o discurso da enfermeira remete diretamente ao discurso niilista do marinheiro do filme de Ody. E a direção de David Cardoso é tudo menos ruim. Muitas sequências o demonstram. As interpretações não são aquela Brastemp ,mas se compararmos com esses "atores" globóides de agora...mereceriam todos os prêmios de melhor ator e atriz.
E por falar em globóides ,vi também 3 filmes que indiretamente - ou não - saíram da linha de montagem da vênus platinada, nossa Hollywood e nossa tumba cinematográfica. Nosso Taj Mahal de Mumbai.
"Bodas de Papel " dirigido por Andre Sturm é , por exemplo, produzido pela Globo Filmes -pelo que parece. O único mérito -relativo -que pude vislumbrar no filme foi a presença de Helena Ranaldi, uma mulher muito bonita. Só por causa dela acompanhei o filme ate a metade mais ou menos. Depois perdi a paciência com aquela história de amor sem graça e mal dirigida entre um arquiteto argentino e a personagem da Helena Ranaldi. Filmo bem aborrecido e fraquinho. Os diálogos são pueris e às vezes constrangedores. As cenas de sexo ruins e como era de se temer, caretas até o pescoço.
"O Homem que desafiou o diabo " tem direção de Moacyr Goes e foi lançado em 2007. Deve ter a chancela da Globo Filmes também. A produção traz aquele padrão dos casos especiais da TV . Ou seja, aquele pseudo padrão de qualidade artificial e pretencioso. O elenco e encabeçado por Marcos Palmeira , que sinceramente, só é ator por razoes familiares. O filme vai na cola das produções anteriores "Auto da Compadecida" e "Lisbela e o Prisioneiro ", Mas ao contrário das citadas acima falta-lhe a leveza e o humor. Uma produção bem cuidada diga-se de passagem - mas não consegue dar um pingo de graça e alma para esse filme insosso. Tenho a maior boa vontade com filmes nacionais. Mas os dois citados acima,sorry, não fui ate o fim.
O "Dia da Caca" com direção de Alberto Graca é de 1999. Tinha preguiça desse filme por causa da presença do Marcelo Antony. Mas o filme me surpreendeu agradavelmente. Um policial bem dirigido e com boas doses de suspense e reviravoltas na trama. Nos minutos finais o filme cai um pouquinho. O personagem do matador travesti interpretado por Paulo Vespúcio se sobressai e toma conta do filme. E aleluia: o diretor nao se furta a mostrar um belo corpo nu feminino por inteiro. No caso da atriz Barbara Schulz. No frigir dos ovos um filme que apreciei bastante e renovou minhas esperanças com essas produções recentes do nosso cinema.
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