sábado, 21 de novembro de 2009
Um senhor Western : "No Name on the Bullet"
Se ha um gênero do cinema que aprecio especialmente é o western. Nao tem jeito: quando estou meio sem entusiasmo para ver um filme o que me salva e sempre um bang bang. Afinal de contas a primeira vez que entrei numa sala de cinema foi para assistir um. Eu devia ter uns 4 ou 5 anos de idade - e esse primeiro filme foi no inesquecível Cine Ipiranga na rua Jacui - na antiga Vila Ipiranga . Nao vou nunca lembrar qual foi esse filme, mas recordo ainda dele uma cena de briga numa rua empoeirada e que o mocinho usava uma camisa amarela. Desde entao devo ter visto quase todas a obras-primas do gênero; e foi com surpresa e satisfacao que descobri mais uma digna de figurar em qualquer lista dos melhores westerns de todos os tempos. '' No Name on the Bullet" foi dirigido por Jack Arnold em 1959 e traz como astro Audie Murphy- que ésabido fez mais de 100 westerns e quase todos bem banais. Assisti um penca de filmes estrelados por ele na Tv e quase sempre eram muito rotineiros. Portanto ,fui ver esse filme sem grandes espectativas. Mais curioso pelo fato da direcao de Arnold, um cara muito competente que fez historia com suas pequenas joias B de ficcao cientifica: ''O Incrivel Homem que Encolheu' o melhor e mais conhecido entre eles.O enredo é singular e aparentemente simples : um pistoleiro de aluguel, um assassino contratado para matar, chega a uma pacata cidade e se hospeda no pequeno hotel. O dono abelhudo do hotel pergunta o nome dele e quando fica sabendo que é John Gant o nome, fica apavorado e sai pela cidade contando pra todos quem era o tal misterioso cavaleiro que acabara de chegar . Era sabido por todos que John Gant sempre quando chegava em qualquer lugar a razao so podia ser uma : estava ali para matar alguem . Todos ficam assustados e se perguntam : quem ele veio para matar ? E na verdade o que John Gant fica fazendo a partir de então é perambular pacatamente pela cidade e jogar xadrez com o médico, o único que trava amizade com ele. Mas se Gant permanece sossegado o mesmo nao acontece com a cidade: a dele chegada desencadeia um processo crescente de paranoia coletiva, Um se suicida, outro foge da cidade e um grupo se enfrenta num tiroteio que resulta em algumas mortes.E Gant nisso tudo ? somente fica assistindo e jogando seu xadrez. A única pessoa a conservar a cabeca fria é o medico local que não vê em Gant nenhuma ameaca e tenta conter a loucura coletiva. Com este material Jack Arnold fez um trabalho digno dos grandes mestres do gênero: o filme é enxuto, redondo e desprovido de "gorduras". São somente 77 minutos. O filme está dentro do contexto dos anos 50 e pode ser ser visto como uma metáfora do maccartismo e da paronoia anticomunista que imperava. Aliás o roteiro em si nao esta longe de tramas B de terror e science fiction (???): um ser estranho, um alien enfim, que invade um local pacato e que gera pânico e paranoia coletiva, ainda que nao de motivos imediatos para isso aparte ser um estranho. O detalhe é que o roteiro foi escrito por um dos roteiristas de Star Trek. O aspecto que mais me chamou a atencao nesse filme sao as cenas em que John Gant joga xadrez com o médico: durante elas enquanto dialogam John Gant diz que ele e o medico, no fim das contas tem o mesmo papel social: um mata e o outro cura.Ambos sao importantes : Um é a vida e o outro é a morte. Fiquei matutanto e me vieram a cabeça as cenas do filme de Ingmar Bergman - O Sétimo Selo - cujas cenas chaves sao justamente a partida de xadrez entre o caveleiro e a morte. Uma curiosa e inusitada associacao essa entre a medieval e luterana Suecia e o seco e empoeirado deserto americano. O western ,o cinema americano por excelência é o nome de um velho livro de critica francesa - editado pela Itatiaia em BH e parafraseando esse título posso concluir dizendo que essa pequena joia de Jack Arnold é o western americano em por excelencia.
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