sexta-feira, 24 de maio de 2013
La Tigresa- 1969
A paixão pelo cinema reserva a cada momento descobertas ou
redescobertas. Sempre fui movido pela curiosidade nessa paixão. Acho engraçado quando converso com amigos cinéfilos da minha
geração, da minha juventude, e vejo que todos, sem exceção continuam a gostar
dos mesmos filmes que assistíamos nos cineclubes, conservam as mesmas
admirações, e vários sequer conhecem o cinema posterior aos anos 90.
Desnecessário dizer que do passado, do cinema que lhes foi contemporâneo
desconhecem aquilo que naqueles tempos nos era desconhecido. Como disse, sempre
fui movido pela inquietude. Quando jovem assistia todos os filmes possíveis no
cinema ou na TV sem preocupação nenhuma com pretensões artísticas. Como
qualquer garoto da época adorava um faroeste, filmes de Tarzan, Santo, Zorro,
Hércules e os pepluns em geral, entre outros mais. As sessões domingueiras do
maravilhoso Cine Ipiranga inolvidáveis. Não sei por que, aliás, meu blog não se
chama Cine Ipiranga. Seria uma boa homenagem. O imóvel continua lá na Rua Jacuí
desafiando minha memória, mas agora, nada de cinema, apenas uma loja de móveis,
uma piada sem graça, quase um insulto, com meu passado. Cresci e descobri Fellini, Visconti, Godard, cinema novo, Buñuel, o cinema americano
clássico e por aí afora. Outro olhar sobre o cinema, política de autor, cinema
como arte, papos cabeças noite adentro sobre estética, escolas. Durante alguns
anos militância em cineclubes. O surgimento do VHS, e posteriormente do DVD ,
da TV à cabo, nos possibilitou descobrir o velho e o novo, mundos novos se
descortinaram para mim. E de certa maneira fechou-se um círculo, um retorno aos
tempos do Cine Ipiranga, um resgate. Longo introito para falar que a cada dia
ainda descubro filmes, cineastas, filmografias. Impossível abarcar tudo aqui no
blog, por exemplo. Seria ótimo criar blogs específicos apara cada paixão, mas teria que fazer um sobre cinema asiático(japas,
coreanos, indonésios, turcos, tailandeses e filipinos), outro sobre noir,
westerns, outro sobre exploitation, giallo, boca do lixo, cinema mexicano , a
lista é grande. Quedo-me quase paralisado, essa é a verdade. O filme que
relembro estava escondido há algum tempo numa pasta reservada ao cinema
mexicano, objeto de minha especial predileção.
Os astecas tiveram sua idade de ouro entre os anos 50 e
80, em todos os gêneros populares possíveis. Volto e meia assisto filmes que me
impressionam pela ousadia e alucinação. Não á toa o surrealismo foi uma
corrente artística que influenciou muito a arte e o cinema mexicanos. Bem, mas
o filme, para minha surpresa, não era
mexicano, e sim porto-riquenho. Confundi com um filme mexicano homônimo do
gigante René Cardona Jr, que infelizmente nunca encontrei. Um filme oriundo da
comunidade nuyorican , os hispanos de Porto Rico que imigraram para New York.
Uma cena cinematográfica breve e curiosa, do qual o filme que relembro é dos
mais significativos, e com uma vantagem: está fácil de encontrar no YouTube. Direção de
Glauco del Mar, realizador de cinco filmes apenas. Perla Faith é a jovem Patrícia
que sofre nas ruas do Spanish Harlem. Um grupo de mulheres, nadadoras e
lésbicas a maltrata todo o tempo. O pai é um bebum. O inferno da moça só piora:
o pai é morto num assalto e ela é estuprada. Menos mal que o patrão da loja
onde trabalhava, um velho judeu, morre pouco depois e lhe deixa toda a herança.
Da noite para o dia ela se torna
milionária. Repagina o visual, compra um clube noturno, e parte para a
vingança. A única pista do estuprador e assassino era uma marca nas costas. Com
a ajuda de um detetive , um gangster e um travesti - trio realmente absurdo - percorre as academias
e as ruas de NY em uma extravagante busca pelo suspeito. O policial chega, por exemplo, a se disfarçar de mulher para procurar o
criminoso, e em uma cena particularmente bizarra, fica sugerido que ele fez um
“programa” e recebeu dinheiro de um homem. As sequências em que ela revista os
homens seminus nas academias são outras dignas de nota no quesito bizarro. Um
filme, que merece uma conferida e vai agradar a quem aprecia um filme com
personagens estranhos e uma trama desconexa mas sedutora.
quarta-feira, 8 de maio de 2013
Return of the Dragon - 1974
Bruce Lee morreu prematuramente de uma maneira controversa deixando uma legião de imitadores no cinema asiático e
até em países europeus e sul americanos, gerando um subgênero da exploitation, a brucexploitation.
O filipino Ramon Zamora foi um dos muitos que surgiu na cola do dragão chinês
do kung-fu anos 70. Dublê, comediante e ator de renome no país quando decidiu a
se aventurar pelos filmes de artes
marciais. Quando eu era adolescente a febre do kung-fu varria o Brasil e o
mundo. Infelizmente naquela época não pude assistir aos filmes estrelados por
Bruce Lee e tinha que me contentar com a série de TV americana estrelada pelo
Carradine. Ironicamente assisti no
cinema somente a uma das inúmeras imitações, com um lutador de nome Bruce Li. Outra
roubada foi ir ao cinema e para ver um
filme do lutador e dar de cara com uma simples colagem de episódios da série de
TV Besouro Verde, que ele estrelou no papel de Kato, assistente do herói. O
tempo passou e me desinteressei de Bruce Lee e do gênero. Confesso que até hoje
mantenho o desinteresse por ambos, apesar da paixão pelo cinema asiático mais
“weirdo”. Atraem-me somente os filmes de arte marciais insanos, que misturam
terror ou outros gêneros, e os deliberadamente toscos, que não se levam muito a
sério. O filme que relembro tem direção
do venerável Celso Ad.Castillo, um dos gigantes do cinema filipino e asiático
na era de ouro. À vontade em gêneros diversos: drama, terror, artes marciais,
erótico. Pena que boa parte da sua filmografia seja inacessível para nós
ocidentais. Já abordei aqui há algum tempo atrás o cinema filipino, sem dúvida
dos mais interessantes dos anos 60 e 70.
Ilha pequena de cinematografia monumental, e que ainda continua a produzir
filmes com regularidade, apesar da decadência. Ramon Zamora ,como lembrei acima
,era humorista e certamente por isso seus filmes de artes marciais abusavam do
humor. Felizmente não é o caso aqui. O filme se leva a sério, na medida certa,
e não tem enxertos com o humor oriental,
sem dúvida a parte mais chata do cinema daquelas bandas, para atrapalhar. Se
passa ao largo das piadas mequetrefes a violência
mais delirante tem lugar cativo na trama. O herói - de nome Pylon- trucida um
bando inteiro de lutadores, mas também leva surras homéricas, é quase morto,
tem as mãos perfuradas por tiros e estacas, vê sua amada ser estuprada e assassinada,
e parte para uma sanguinolenta vingança. A estética do spaghetti italiano é marcante e
dá um toque especial ao conjunto: a trilha sonora, por exemplo, é claramente
decalcada dos temas de Ennio Morricone. Interessante pensar que o spaghetti bebeu na fonte oriental – os filmes de
samurais, especialmente- e acabaria influenciando os filmes de artes marciais
posteriormente. Para os interessados em
conhecer este precursor dos filmes de Tarantino a boa notícia é que ele tem
completo no Youtube, dublado em inglês.
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