terça-feira, 31 de maio de 2011

The Unholy Wife- 1957


Definitivamente um filme bizarro. É um noir, mas é colorido, e tem uma carga camp fortíssima. John Farrow é um diretor americano, com bons filmes na sua carreira. Injustamente passou à história do cinema mais como pai de Mia Farrow. Aqui nesse drama policial temos a história de Phillys, uma garota da noite, que sai da lama graças a um ricaço interpretado por Rod Steiger. Estranhamente ela leva o filho adotivo para morar numa mansão habitada apenas pela anciã mãe do marido, que tem ainda um irmão sacerdote. O negócio do marido milionário era o vinho. E a moça não tardaria a ficar entediada com a vida reclusa, arruma um amante e planeja a morte do marido. Só que a loura comete um erro fatal e como toda história de crimes, termina no corredor da morte. Aliás, o filme se inicia com um flashback, onde a criminosa com os cabelos agora negros relembra seu crime.
O filme não chega a ser um primor, mas a loura inglesa Diana Dors impregna o filme de um aspecto quase surreal e lúbrico. O clima é bizarro beirando o puro quase nonsense na atmosfera e na trama. A moça é o ponto fraco e o ao mesmo tempo o seu charme. A atriz não teve muita sorte na carreira americana e esse filme foi uma de suas tentativas fracassadas de sucesso na América. Ela foi importada da Inglaterra com muito estardalhaço e tida como a Marilyn Monroe inglesa. Acabou sendo apenas mais uma loura. Mas deixou sua marca na história do cinema de qualquer maneira

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Noiva da Noite- 1974


Alguns pontos sobre este filme esquecido nas prateleiras da nossa história do cinema brasileiro. Primeiro: não consegui encontrar uma única imagem desse filme na internet. Impressionante. Segundo: o filme foi dirigido por uma mulher. No caso Lenita Perroy. Além desse filme de 1974, ela ainda realizou outro filme: “Mestiça” com Sonia Braga. Esse pelo visto, impossível de encontrar.
Numa das minhas andanças pelo centro e pelos shoppings populares tive a sorte de encontrar um DVD (pirata evidentemente) desse filme. Confesso que foi uma compra intuitiva e no escuro, baseado mais nos nomes do elenco: a bela Rossana Ghessa e Francisco di Franco. Esse cara foi um dos meus heróis de infância , quando interpretava Jerônimo, o herói do sertão na TV. Outos nomes ilustres estão no elenco: Jofre Soares, Anselmo Duarte e o eterno cangaceiro Alberto Ruschel.
Lenita era casada na época com o francês Olivier Perroy, também diretor de cinema radicado aqui no Brasil. Uma mulher de múltiplos talentos: maquiadora, figurinista e cenógrafa. E a julgar por esse filme diretora talentosa. Pena que não prosseguiu na careira. E obter informações sobre o que anda fazendo não foi fácil. Parece que se dedica a cuidar de cavalos, pelo que percebi em alguns blogs.
O filme se constrói dentro de uma estrutura de faroeste. Alguns até o enquadram no sub-gênero “western feijoada”, o que para mim não corresponde. Trata-se de um filme de aventuras ambientado em área rural, digamos assim(o filme foi realizado em Itu, diga-se de passagem). Francisco di Franco , um garimpeiro, vê seu irmão assassinado pelos capangas do poderoso coronel local e é condenado a 10 anos de prisão. Em liberdade condicional ele regressa em busca de vingança: rapta a filha do coronel e inicia uma fuga sensacional através de um rio de águas caudalosas, com os capangas em seu encalço. Um filme de “macho”, viril, com toque feminino: não há cenas apelativas de nudez feminina, aliás, o filme é casto nesse quesito. Uma autêntica precursora da americana ganhadora do Oscar e ex-mulher de James Cameron, Kathryn Bigelow. Trama bem amarrada e conduzida, cenas boas de perseguição pelos pântanos, que prendem o espectador até o final violento e rápido. Um bom e curioso filme que merecia uma redescoberta.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Ganga Bruta


Publicado n'O Estado de Minas, 1º de setembro de 1984, quando do relançamento do filme em Minas Gerais.)

"O último filme ‘Made in Cascadura’, que vimos na Cinelândia, tinha dois metros de celulóide, esticando uma bobagem que caberia nas costas de um selo. O público riu do drama até onde pôde e, quando não pôde mais, foi chorar o dinheiro da entrada na cama, que é lugar quente... " A bobagem a que o cronista Henrique Pongetti se refere é o filme Ganga Bruta, que poucos dias antes estreara na Cidade Maravilhosa, cercado por chacotas e piadas de mau-gosto. "Abacaxi da Cinédia", "o pior filme de todos os tempos"; o autor para muitos um "Borzage de São Januario", "Freud da Cascadura "; a produtora do filme — Cinédia — para outros, segundo outro, daria uma "esplêndida fábrica de goiabada", e por aí afora. O senso de humor do pessoal não era dos "piores": este tipo de recepção irônica a obras artísticas que fugiam ao senso dominante não era e não é novidade: anos antes, o poeta Augusto dos Anjos fora malhado impiedosamente pela crônica local; outro filme, Limite, recebera também críticas hostis, e etc. e etc.

Quando da primeira exibição Ganga Bruta rendera parcos quinze mil réis, sumindo logo depois de circulação. Graças a Carl Scheiby ele foi resgatado: remexendo nos arquivos da Cinédia ele encontrou os negativos; remontou-o (com aprovação tácita de Humberto Mauro) e exibiu-o em 1952 na 1ª Retrospectiva do Cinema Brasileiro, obtendo então consagração. Assim, depois de considerado praticamente perdido, o filme ressuscitou por um acaso fortuito. Agora, graças ao empenho de empresas privadas, do governo Estadual e da Embrafilme, pudemos tomar contato com esta obra praticamente inédita para a novíssima geração; Infelizmente, só pude assisti-la uma vez, quando da abertura da mostra, cabeça sob leve efeito do coquetel e do blá-blá costumeiro que acompanha tais eventos; sendo assim, minha impressão inicial foi de perplexidade pura. Depois, o processo gradual de reconstruir as imagens na mente, o papo com os amigos a respeito, quando então podem surgir observações curiosas — "achei machista" — analogias — lembrei os melodramas de Fassbinder... coisas de saída de cinema, que, afinal de contas, pertencem de certa forma ao objeto fílmico. Então pude ter uma impressão mais ou menos geral da obra. Pode-se dizer que estou assistindo-a há uma semana. "Ganga", segundo a definição de Aurélio é um "resíduo, em geral inaproveitável, de uma jazida mineral"; e "um tecido forte, azul ou amarelo".

Ganga bruta: um engenheiro mata a esposa na noite de núpcias. Motivo: ela o traía. Só teremos certeza disso no decorrer do filme, quando, em "flash-back", ele rememora o namoro, as suspeitas, o noivado e, por fim, o crime. E absolvido (como vêem, a história, afinal de contas, é assaz conhecida...) por unanimidade e refugia-se no interior (na dupla acepção da palavra). A metáfora obviamente remete ao engenheiro Marcos Resende, que após o crime torna-se um resíduo duro e forte como um minério, e justifica-se tendo em vista ser ele um engenheiro. Neste entrelaçamento de imagens, metáforas e alegorias, Humberto Mauro narra a sutil transformação de Marcos, inserida sempre num contexto marcadamente sensual, plástico, feérico e impressionista. O que sem dúvida atrai e surpreende em "Canga Bruta" é esta forte carga de sensualidade, captada magistralmente por movimentos de câmera expressivos, nitidamente sensuais no modo como se aproximam dos objetos. Como já observou Glauber, este "é um filme (...) concebido com absoluta maturidade". Humberto Mauro a consegue de maneira algo despretensiosa, vezes desequilibrada, utilizando efeitos naturalmente da época, como exemplo o excesso de metáforas (que, como já percebemos, iniciam-se a partir do próprio título) facilmente constatáveis tanto no cinema que se fazia quanto na literatura. Deve-se registrar, já que falei em literário, este natural parentesco literário (que afinal de contas atingiu na época proporções maiores, vide Semana de Arte Moderna de 22, movimentos europeus de vanguarda) que a obra de Humberto Mauro apresenta, sem esquecer que boa parte de seus primeiros filmes realizaram-se sincronicamente à existência da revista "Verde" de Cataguases. Em Ganga Bruta traços de José de Alencar podem ser discernidos sem maiores esforços, que, felizmente, não influenciam muito.

Alguém já notou que se Humberto Mauro tivesse se tornado romancista sua contribuição para nossa cultura teria sido nula; felizmente ele resolveu contar suas histórias em imagens. E aí sua contribuição é inigualável, além de viva.

Assistam Ganga Bruta, esqueçam a lorota do deslumbrado articulista e confiram. Garanto que não irão chorar o dinheiro da entrada na cama, as poltronas do cinema (nem todos é claro) também são quentes

segunda-feira, 2 de maio de 2011

The Third Voice- 1960


Um desses filmes noir praticamente invisíveis e ignorados e que sem dúvida merece uma menção. Só de contar com a diva cool Julie London, já valeria a lembrança, além de Edmund O’Brien, bom ator. Mas esse policial noir reserva outras boas surpresas. Uma trama inteligente e original é que temos: uma ex-secretária de um milionário(e amante) tenta extorquir dinheiro e elabora um plano curioso: recruta um ator fuleiro para tomar o lugar do milionário, em férias no México. O golpe seria o ator simular a voz do ricaço nas ligações para os EUA e ir transferindo dinheiro para a uma conta. O milionário é morto pela secretária e o golpe dá certo: o ator se deixa levar pelas delícias do México e os braços aveludados de Julie London. O final é inesperado. O diretor Hubert Cornfield teve carreira com poucos e bons filmes, Infelizmente difíceis achar, já que não saíram em dvd ou mesmo em VHS. No total apenas 11 filmes realizados. Nesse pequeno noir o diretor e também roteirista demonstra talento e estilo para conduzir o filme. Sem dúvida merece uma revisão