quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Viagem aos Seios de Duilia


Uma agradável descoberta essa filme. Confesso que não esperava muito. Sempre fico com um pé atrás com adaptações de boas obras literárias para o cinema. E esse conto do mesmo título do mineiro Aníbal Machado é antológico e inesquecível. Então com certo receio me aventurei a assistir esse filme dirigido pelo argentino Carlos Hugo Christensen. Verdade seja dita que recentemente havia visto ''A Intrusa" que ele dirigiu adaptando um conto de Jorge Luís Borges. Uma audácia sem duvida e o danado se saiu bem na empreitada em minha opinião. Assim sendo eu tinha lá uma esperança de uma adaptação pelo menos decente da obra do nosso Machado. E posso dizer que as minhas expectativas foram amplamente superadas. O argentino mais uma vez tinha se saído bem adaptando uma boa obra literária. Respeitou o espirito da obra e soube criar uma obra cinematográfica singular e com méritos próprios. Os méritos começam pelo elenco': Rodolfo Mayer esta perfeito no papel do funcionário aposentado. Sua saga é uma sucessão atroz de esperanças perdidas e desilusões que culminarão com a decepção maior e final. E a busca de um tempo perdido que se revela amarga. Uma madeleine dura e seca pela ação do tempo é o que o velho encontra no final da sua jornada. É evidente que o diretor se embebeu de Bergman e Dreyer para compor suas imagens : a ênfase e as emoções mais que nas palavras esta nos rostos e nos olhares das personagens. A câmera captura com precisão cirúrgica e caligráfica nas linhas dos rostos os dramas e as desilusões que vão se se sucedendo. O copo que e servido para acompanhar a madeleine do velho funcionário Zé Maria é puro fel. É um filme triste ? É. Mas que dá um prazer danado assisti-lo :estamos diante de um filme honesto, real e humano. Aqui se sente a poesia e a vida em sua essência e verdade. O filme foi realizado no longínquo 1964. E ele não pode ser esquecido. Obra prima do nosso cinema brasileiro realizada por um hermano.

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