sábado, 20 de outubro de 2012

Um bate papo com Hytagiba Carneiro

Uma prosa com um amigo cinéfilo de São Paulo e veio a dica :um dos atores fetiches e amigo de Tony Vieira residia aqui pertinho de BH, em Contagem. Graças ao facebook o contato foi estabelecido, pedido de amizade aceito e a sugestão de uma possível entrevista para o blog igualmente aceita sem problemas.
Hytagiba Carneiro, o Gibão é um colosso, monumento cultural de Contagem, uma figuraça como não se faz mais: quase um dinossauro. Conheceu Tony Vieira ainda garoto em Contagem e com ele trabalhou em quatro filmes, além de ter trabalhado com diretores como Fauzi Mansur, Clery Cunha, Tião Valadares e, aqui em BH com o cineasta Paulo Leite Soares. É muita história boa que ele tem para contar, com sua fala caudalosa e vibrante, que só uma força abençoada da natureza é capaz.

Giba, fale um pouco sobre sua vida antes do cinema.
Estou com 82 anos, então sou praticamente uma história viva de Contagem. Nasci em Capitólio, Minas Gerais. De lá cheguei aqui em Contagem na década de 40, e trabalhei como mecânico, estudei no SENAI e fui evoluindo . Toda a minha vida gostei muito de ler bons livros. Hoje as pessoas conversam comigo e acham que sou um cara que tem faculdade: eu tenho a faculdade do mundo. Então eu escrevo certas palavras e a pessoa tem que consultar o dicionário. Eu gosto muito de ler a coluna do Eduardo Almeida Reis , no jornal Estado de Minas, e ele usa palavras que eu gosto de usar também. E cheguei a um ponto que os engenheiros perguntavam no trabalho : “quem é este rapaz moreno comunicativo e falante”. E fui assim , crescendo, estudando e casei, tive duas filhas, Rosana e Soraia, e vim morar em Contagem. Trabalhava na Itaú, a antiga fábrica de cimentos, onde hoje está o ItaúPower. E para minha alegria e felicidade fizeram o tombamento das chaminés, e quando as vejo a saudade bate e a gente volta no tempo.

Como surgiram  Tony Vieira e o cinema em sua vida?
O cinema surgiu quando me aposentei aos 40 anos e me separei também. Na década de 60 o Tony chegou de Dores de Indaiá e foi morar no alojamento da Itaú, nessa mesma época eu trabalhava como mecânico. Ele era um rapazinho. Fazíamos teatro, meu irmão José Sebastião Carneiro Filho ( já falecido) promovia shows, e eu falante como sempre – falo mais que papagaio, eu era o apresentador. Apresentei Nelson Ned, Agnaldo Timóteo ,Alfinete e outros. Na Itaú tinha uma área de lazer onde aconteciam shows e espetáculos.

O Tony participava disso?
Não, ele não fazia nada. Ele começou a trabalhar com meu pai, que era chefe de obra, empurrando carrinho, e um dia chegou pro meu irmão, que tinha o apelido de Zezé Cabeleira e disse:” não dá para mexer com isso não, minha vida é outra, quero ser artista, não quero ser servente não”. E ele começou a fazer trabalhos no circo e teatro, nas festas interpretando alguns personagens e ele logo se destacou. E meu irmão o levou para trabalhar na TV Itacolomi com o Otávio Cardoso, fez o teste e passou. Depois o Moacir Franco veio fazer um show em BH e gostou dele e o levou para São Paulo. Ai ele foi trabalhar na TV Excelsior, conheceu o Heitor Gaiotti, trabalhou com o Mazzaropi e conheceu o Edward Freund que lhe deu a primeira chance no cinema. E nessa mesma época ele recebeu um convite da Globo para fazer uma novela .Ele participou e teve uma grande repercussão em Minas, todo mundo foi assistir a novela “A Grande Viagem”. Depois ele conheceu o comendador Francisco A.Soares, que estava começando a investir no cinema. E ele o convidou para dirigir um filme. E já em 1974 ele teve o grande estouro de bilheteria com “A Filha do padre” e deslanchou. Ele, a Claudette e o Heitor Gaiotti, formaram uma equipe.

E quando você foi trabalhar com o Tony? Em 1977 fui trabalhar em “Amantes de um Canalha”. Eu estava aqui em Contagem e ele me convidou. Tony esteve aqui filmando “Traídos pelo desejo” em 1976 e chegou para mim e disse: “Giba, se prepare que vou te levar pro cinema”.

Você chegou a participar de “Traídos pelo desejo”? Parece-me que eu fiz uma pontinha numa cena em que estamos no alto de um morro e eu entrego um rifle para ele, não me lembro bem . Talvez esteja confundindo com uma cena de “Os Violentadores”.(risos)

Qual foi seu papel em “Amantes de um Canalha”?
Eu interpretava um bandido. Eu participei de tudo, fazia fotos, ajudava na produção.

E como era a produção do filme?
Não era precária já que tinha o dinheiro do comendador. Todo o equipamento de filmagem da Boca era de primeira geração importado da Itália. Ele foi o primeiro a usar grua e três câmeras em cena.

Como Tony trabalhava no set de filmagem?
Ele era muito bom, muito atencioso, cuidava de todos os detalhes. Ele montava toda a cena, sempre com o Rajá que era seu braço direito. Ele chegava para um ator, explicava todos os detalhes. Teve uma cena em que eu levaria um tiro, por exemplo, e no final ele dizia : “vai com Deus”. Na verdade eu é que atrapalhava muito ele.

Como assim?
Porque eu gostava muito de fotografar e ficava tirando foto das cenas, atrás das câmeras e ele ficava bravo e chamava o Índio Lopes, mandava parar tudo e gritava: “Pô, tira esse pedaço de arrombado daqui”. Ele gostava de usar esses termos engraçados. Ele era muito brincalhão, mas na hora de trabalhar era sério, não brincava com as atrizes durante as filmagens.

Quanto tempo durou as filmagens de “Amantes de um canalha”?
Geralmente as filmagens duravam de 30 a 40 dias. Os títulos eram pesados para atrair público mesmo. O cara entrava no cinema, via o filme e não tinha nada daquilo anunciado e ficava puto.

Você se recorda de fatos engraçados durante as filmagens?
Ah, tem muitos. Um dia, por exemplo, no momento de descanso ele se sentou debaixo de uma árvore para descansar e eu cheguei com minha câmera super 8 e fiquei filmando ele. Ele fechou a cara, chamou o Índio , mais uma vez ,e gritou: “pô, leva esse Giba embora, ele não me deixa nem mijar sossegado”. Ele estava urinando e eu filmei.

Você tem este material ainda?
Devo ter uns rolos de super 8, mas não sei mais as condições para se fazer uma cópia. Tenho muito material feito por trás das câmeras: além do Tony , eu era o único ele deixava fotografar as atrizes nuas e então eu fazia uns nus artísticos.

Aconteceram outros casos engraçados?
Sim, em uma das cenas eu estava à beira de uma piscina e tinha um ator falando com outro, em um prédio distante. Éramos eu e outro ator, o Hely Antônio, e eu ficava igual você está agora ai só balançando a cabeça e concordando: fazia uma hagá, coçava a cabeça e etc., truques que o Gaiotti me ensinava – e quando a noite chegou toda a equipe foi para um restaurante. O Iragildo Mariano, que era o diretor de produção subiu no palco e anunciou o elenco. Chamava e apresentava um por um. E depois de apresentar o Hely, que era mineiro também, anunciou que tinha o prazer de chamar o Hytagiba Carneiro, a vaca de presépio! E eu subi, e todo mundo dando gargalhadas, e eu perguntei por que me chamou daquilo e ele respondeu que tinha ficado me observando na cena da beira da piscina e viu que eu só ficava balançando a cabeça feito uma vaca de presépio (risos). E teve outra mais engraçada ainda.

Outra? E como foi?
Na noite de estreia de gala do filme, no Cine Brasil, eu cheguei de taxi e era cedo ainda, e não vi ninguém do elenco na porta. Fiquei andando para lá e para cá e ninguém chegava e então fui até a bilheteria e comprei um ingresso. E daí a pouco o Tony chegou com o Gaiotti e o resto da turma . E quando me viram com o ingresso na mão começaram a rir e me chamaram de mineiro otário porque tinha comprado ingresso para assistir a estreia do próprio filme.

E o Gaiotti, era daquele jeito mesmo como nos filmes?
Ele era aquilo mesmo: muito camarada e brincalhão. Gaiotti me ensinou um monte de truques para não ficar feito um boneco em cena. E agora eu fico vendo uns filmes americanos e você vê muito cara boneco que fica lá igual vaca de presépio só balançando a cabeça. Isso acontece no cinema nacional e no cinema americano também.

Depois veio “Os Violentadores” em 1978...
Pois é agora tá todo mundo atrás desse filme. Ninguém tem. Agora em Goiás o José Carlos conseguiu uma cópia e está restaurando. Em São Paulo tem o Fábio Vellozo , tem o Rodrigo Pereira, que está escrevendo um livro sobre o Tony e precisa assisti-lo para ter uma noção mais abrangente, e está esperando pelo filme. Então tem esses dois projetos – a restauração e o livro – em andamento sobre o Tony.

E em  “O Último Cão de guerra”, teve muita história pitoresca nas filmagens também? Neste sou um dos atores principais do filme: eu carrego a história. Faço um militar durão. Sempre fiz bem esse tipo. O pessoal gostava. Quanto a histórias pitorescas, o exército estava ajudando nas filmagens. Filmavámos em Cumbica ,onde hoje é o aeroporto e lá era área do exército. O comendador comprou um jeep e doou para eles. Tudo estava tudo ótimo, mas fizeram umas fotos eróticas tidas como obscenas na época retratando uma atriz com um fuzil entre as pernas abertas e cobrindo a vagina. As fotos saíram em uma revista e a mídia fez um estardalhaço com as fotos e o exército devolveu o jeep e mandou apreender a revista.

Você também trabalhou com outros diretores além do Tony, como o Fauzi Mansur. Como foi? Sim, eu trabalhei com o Fauzi Mansur em “Sexo animal” em 1983. Eu já o conhecia da Boca (do Lixo) e ele gostava do meu tipo e me convidou. Todos gostavam do personagem que eu fazia: aquele tipo durão, militar.

Você frequentava a Boca ?
Sim, claro. Quando ia a São Paulo filmar ficava hospedado na casa do Tony uns 30 dias,e quando ele vinha a Minas ficava lá em casa. Eu conhecia a turma toda da Boca. Tomava um cafezinho no Soberano ou no Ferreira. Era aquela cachaça, né? Todos aqueles atores e atrizes passavam por lá, o bate-papo rolava, era uma família. Infelizmente o Collor mutilou a acabou com o cinema nacional.

Em sua opinião foi ele o responsável maior pelo fim da Boca?
Ah sem dúvida, foi ele. Mas o Tony não dependia de verba da Embrafilme para fazer seus filmes. Os filmes davam retorno e tinha o apoio do comendador. Era ao lado do Cardoso, do Cavalcanti e do Mojica, o cara mais forte na Boca.

Você trabalhou com o Clery Cunha também, certo?
Sim, contracenei com o Roberto Bonfim em o “Rei da Boca”, onde eu fazia o papel de um bandido logo no começo do filme. O David Cardoso depois me convidou para trabalhar em um filme dele, mas o Tony não permitiu. E então veio o Tião Valadares.

Você então fez o “Cangaceiro do diabo” em 1980...
O Tião era um camelô, vendia joias, anéis e outras bugigangas na rodoviária. Era um sujeito inteligente, escreveu a história do filme e os produtores gostaram dela e investiram. Ele chamou o Rajá para dar uma força.Mais uma vez interpretei um militar.

É verdade o boato que o Rajá é quem dirigiu o filme?
Sim, o Rajá foi quem dirigiu: o Tião só assinou a direção.

E ele não se importou com isso e aceitou sem reclamar?
Lógico, ele estava sendo pago para isso e tinha muita amizade com o Tião. Nunca pude ver o filme pronto e só agora terei essa honra graças a essa cópia que você me conseguiu.

E o trabalho em “Dois Homens para Matar” de Paulo Leite Soares?
Fiz aqui em BH, e também não pude ver. São vários filmes que só estou tendo a satisfação de ver agora.

Você trabalhou em “Calibre 12” um dos últimos filmes de Tony, em 1988, certo?
Exato, tive uma grande participação nele. Foi um fracasso, infelizmente, ele já estava em decadência. Um cantor sertanejo que investiu: gostou a história. Eu faço o papel de um bandido na fazenda e tem uma cena em que Tony chamou uma atriz e ela tinha que chorar porque o filho estava sendo maltratado e ela não estava conseguindo. E eu atrás da câmera comecei a chorar ela ficou comovida vendo minhas lágrimas e conseguiu.

Tony gostava de cinema, tinha hábito de assistir a muitos filmes?
Ele gostava muito de faroeste italiano , filmes de ação e policiais. Não era muito de ler: gostava mesmo era de assistir um filme.

Ele sabia alguma arte-marcial, usava dublês em cena?
Ninguém usava dublê, aliás, todos gostavam de fazer as cenas perigosas. Claro que houve colega que se machucou: o Profeta , por exemplo chegou a perder um olho, por causa de uma explosão em outro filme, que não foi dirigido por Tony. O Tony era um acrobata, trabalhou em circo antes de ficar famoso, e então sabia dar aquelas cambalhotas e simulava as lutas todas muito bem.

Tony se importava com as críticas ruins ? Ele não se importava. Guardava tudo que saía sobre ele, recortes de jornais, revistas e então ele sabia das críticas todas. Mas ele se achava o bom da Boca, e era muito admirado no Nordeste, e então não ligava. Para mim ele foi realmente um dos maiores diretores do cinema nacional. Ele gostava de dizer que fazer cinema era como estar dentro de casa, e bastava ser natural.

domingo, 14 de outubro de 2012

Anjos do Sexo - 1981

O cinema brasileiro pode não ser pródigo em incursões pelos filmes de gênero, como terror ou fantástico, mas seguramente tem a sua história povoada por cineastas fantasmas, ou melhor, dizendo , diretores que dirigiram vários filmes e sumiram do mapa: viraram –metaforicamente- zumbis e assombrações. Levy (ou Levi) Salgado é um desses fantasmas. Sinceramente adoraria poder dar mais informações sobre ele além das que pude catar aqui e ali: fez mais de uma dezena de filmes nos anos 80, quatro deles em parceria com a atriz Lady Francisco, e que faleceu em 1990,com 41 anos. Não mais que isso pude apurar. Ao que tudo indica construiu a carreira independente de qualquer apoio oficial ou mesmo de produtores da Boca do Lixo. Aliás, trata-se de uma produção carioca, mais afim talvez do chamado Beco da Fome, que ainda aguarda sua história. Como de praxe boa parte dos filmes de Levy se perdeu e mesmo os que são possíveis de encontrar depois de muito esforço estão em cópias ruins. As esparsas referências à sua obra o classificam como um “picareta”. Considerando que o mesmo adjetivo já foi utilizado para classificar quase todos os cineastas que ousaram realizar filmes populares e distantes da estética do bom gosto, o adjetivo pode significar ironicamente alguém interessante. O filme que relembro aqui foi um dos citados que a atriz Lady Francisco produziu. E este tem um atrativo extra: ela assina a codireção. Por que razão? Teria tenha brigado com o diretor e o despediu antes das filmagens terminarem? Não sei. Quem souber maiores informações me enviem, por favor. Considerando-se que mulheres na direção é caso raro num país tradicionalmente machista é digno de nota o fato. No elenco à exceção da produtora, diretora e atriz principal, nenhum nome conhecido. Nomes como Dayse Done, Nice Aires , Lia Farrel ( essa virou professora de teatro no Rio e é mãe de atores), Carlos Henrique Santos e Joel Grijó (teve uma carreira profissional atuando em seis filmes) entre outros despontaram para o anonimato depois desse filme, pelo visto. Se não foi um produto da Boca seguramente emulava a estética paulista na temática e na concepção com tempero rodriguiano. A trama é restrita ao núcleo familiar de Lourdes(Lady Francisco) uma madame, que vive em uma mansão isolada. O marido a abandonou e a deixou com um filho meio idiota, duas filhas sacanas, um sobrinho e um casal de criados idosos, além da Vilma, filha desses. A história podia ser meio como no poema: fulana que ama fulano, que ama sicrana que ama fulana e tem Carlinhos que come todos, mas não ama ninguém, e no meio a madame carente que para se acalmar dos ataques de histeria recebe tratamento especial do sobrinho, sob as vistas dos filhos. No bolo tem incesto, lesbianismo, homossexualismo, pedofilia, enfim um catálogo quase completo de taras. Tudo muito normal como em qualquer família rica: perversões e desejos saindo dos armários e dando vazão nas camas, estrebarias e cascatas. O que move nosso anti-herói Carlinhos é o ódio e a rejeição, que acaba por levá-lo a matar a amante Vilma, quando ela anuncia que ele será papai. A trama que seguia lenta resumindo-se em encontros sexuais variados, quase todos protagonizados pelo rapaz, ganha contornos mais sombrios e violentos até culminar em um fim irônico e simbólico. Tudo está no seu lugar, graças a Deus, como diria a canção. Lady Francisco, canastrona, faz caras e bocas para interpretar a coroa sexualmente histérica e sonsa mas superprotetora da prole. O resto do elenco consegue ser pior no quesito interpretação, o que é afinal de contas , normal em filmes dessa lavra exploitation tupiniquim. Apesar disso o filme convence e merece uma redescoberta pelo tentativa de fundir violência, terror e erotismo. Ele pode ser encontrado em cópia razoável no site “Eu gosto de filmes brasileiros”.

domingo, 7 de outubro de 2012

Toi, le Venin - 1958

Se tivesse saco e paciência bem que gostaria de escrever algumas listas. Uma delas que sempre imagino seria dos melhores inícios da história do cinema, ou melhor, meus favoritos e marcantes Na falta dessa lista, talvez um texto sobre eles. O hábito de ver muitos filmes gera certa impaciência vez ou outra: me pego às vezes tentando assistir, um, dois, três filmes, e largando-os logo nas primeiras sequências numa dispersão ansiosa irritante. Não foi caso desse filme francês que já há algum tempo descansava aqui no HD e esperava pacientemente sua hora. A presença de Marina Vlady já era suficiente para despertar a curiosidade. Mas logo na primeira sequência ele me cativou: sem dúvida um dos melhores e mais sensuais inícios que tive a oportunidade de assistir. Um sujeito perambulando por uma praia ao cair da tarde, um cadillac branco dirigido por uma mulher (da qual não se consegue ver o rosto ), que lhe oferece uma carona até Nice. Sim, o cenário é o mesmo imortalizado pela câmera de Jacques Demy. Porém a motorista misteriosa desvia do caminho, estaciona num local isolado, e para a felicidade do moço, se desnuda e se deixa possuir. Uma noite que prometia ser inesquecível e que logo se transforma em um pesadelo: a desconhecida após fazer amor, saca uma pistola, expulsa o rapaz e ainda tenta atropelá-lo. Felizmente - dependendo do ponto de vista - o nosso herói, Pierre, consegue anotar a placa do carro e resolve descobrir a identidade da maluca. A investigação leva-o a uma mansão habitada por duas irmãs: Eva(Marina Vlady), presa a uma cadeira de rodas, e Helene (Odile Versois). Ambas belíssimas , sedutoras e enigmáticas. Diga-se de passagem, que as duas atrizes eram irmãs na vida real, e a primeira casada na época com o diretor Robert Hossein, que interpreta o personagem principal. Para continuar o clima familiar a trilha(sensacional) foi assinada pelo pai do diretor, André Hossein, e a assistência de direção esteve a cargo de outra irmã das atrizes. O filme foi realizado durante o nascimento do furacão da nouvelle vague, mas passou longe do movimento. Um filme que não envelheceu e continua a seduzir o espectador com sua aura de sensualidade e clima “noir”.
A trama lembra em alguns pontos outro filme “à gauche” da nouvelle vague: “Les Felins” de René Clément, com Alain Delon e Jane Fonda, realizado em 1964. Em ambos os filmes temos homens indecisos e tolos que se tornam joguetes nas mãos de mulheres diabólicas e ambíguas, mas sempre fascinantes e sedutoras: sereias de canto venenoso e mortal. O diretor Robert Hossein nunca obteve muito reconhecimento por parte da crítica, e anos 70, se afastou do cinema e foi se dedicar ao teatro, onde se tornou um dos monstros sagrados e ganhou o respeito merecido. A história foi adaptada de um romance policial de Frédéric Dard, que colaborou na confecção do roteiro juntamente com o diretor. O filme pode ser baixado via torrent, em boa cópia: http://bt.eutorrents.me/index.php?page=torrent-details&id=bea76a5f2212799e5f7f34f2fa064ca4647785fb