sexta-feira, 16 de março de 2012

A Dama de Branco - 1978


Ficar arengando sobre falta de memória nossa cansa, mas é inevitável, é claro, se vamos escrever sobre filmes brasileiros. Temos que conviver com isso, faz parte. A nossa crítica oficial escolheu determinada linha de filmes e que sobrou , que não se coadunava com os padrões estabelecidos de ideologia e estética , foi empurrado para debaixo do tapete. E dá trabalho levantar o tapete, ah se dá. Isso não ocorreu só no cinema né? Na música popular foi a mesma coisa: quem não entrava na estética bossa nova ou tropicalista, preferencialmente esquerdóide, foi limado das páginas das histórias oficiais. Mas não vamos nos estender sobre isso, pois afinal daria um livro. Aqui estamos com um filme interessante da década de setenta. Um gênero pouco praticado no nosso cinema, como de resto quase todos os gêneros: o melodrama. Como passou no excelente Canal Brasil, acabou caindo na net, e creio mesmo que exista edição em DVD. Mas as informações são escassas. O diretor Mário Latini, ao que tudo indica ainda está vivo. Mas nunca mais fez nenhum filme depois desse. Não foi produção da Boca e a Embrafilme se limitou a distribuição. No elenco a cara conhecida de Rubens de Falco, que conta o diretor, foi escolhido pela popularidade graças à novela “Escrava Isaura”, onde interpretava o malvado Leôncio. No nosso filme ele é bem mais simpático. É Maurício, um sujeito, que vem ao Brasil do Marrocos, a passeio, visitar o amigo: Heitor, um rico industrial que leva um casamento infeliz e entediante com Marta ( Anna Zelma ), mas tem vida de fauno. Na garçoniere que mantem na Vieira Souto, à beira da praia, leva suas amantes. E é lá que deixa o amigo hospedado. As coisas saem dos conformes quando a esposa descobre a existência do apartamento e vai lá para conferir. Naturalmente encontra lá por acaso o amigo do marido vindo do Marrocos. Em dois tempos se enamoram, sem que Maurício imaginasse que a mulher, que adotara o nome de Ana, seria ,na verdade, a esposa do amigo. Os encontros vão se sucedendo. Em boa e irônica sacada do roteiro o amigo Maurício aguça a curiosidade libidinosa do amigo marido chifrudo – naqueles habituais papos masculinos sobre conquistas - , que não suspeitando ,nem de longe, que aquela maravilha toda que o amigo elogiava era a própria esposa, começa a fantasia-la e deseja-la.

Uma situação quase decamerônica, por assim dizer e levada com elegância e discrição pelo diretor. Falei de uma boa sacada, mas a outra da garotinha, vizinha do casal, fica ali meio perdida na trama: a mãe era também amante do tarado, e só. Muito adultério e sexo, mas ao contrário do que poderiam esperar os detratores do cinema nacional, sempre com a frase “só tem muié pelada”, o filme é casto, castíssimo, como diria o filósofo José Dias, de saudosa memória. No geral um melodrama curioso e realizado com competência. A esposa ,na vida real do diretor,atua no filme como Ângela Berg, e foi autora do roteiro, além de assistente de direção. Antes desse filme Mário Latini havia realizado outros quatro títulos, dois deles no gênero policial. O irmão Anélio Latini dirigiu o primeiro desenho animado nacional em 1951, “Sinfonia Amazônica”, e Mário foi o câmeraman. Depois desse filme não fez mais nada e desapareceu. Alguém saberia onde anda Mário Latini?

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